Tinham-me passado despercebidas as
declarações do secretário e porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa
reafirmando a preocupação da Igreja portuguesa com os abusos sexuais mas
admitindo “uma dezena” de abusos o que … “São pouquíssimos”. E reforça, “os
casos presumíveis ou já decididos pela justiça, já com sentença penal, são
mesmo reduzidos" e que “"os casos tratados nos tribunais eclesiásticos
onde chegam as denúncias são pouquíssimos e, desses, mais de metade a
investigação prévia parou por falta de fundamento".
Ainda me consigo surpreender.
Não espero a santidade de ninguém
como também não espero a perfeição. Também defendo uma educação com e para valores
e não uma educação para a santidade.
Mas Senhores Bispos, sois a
cúpula da Igreja, um caso de abuso sexual seria demais. Nem vos pergunto como estabelecem a fronteira entre pouquíssimos e muitos. Tenho medo da resposta.
Como se sabe, os Senhores Bispos
também sabem, importa não esquecer um aspecto fundamental, a maioria dos abusos
sexuais sobre crianças ocorre nos contextos familiares e envolve família e
amigos e figuras percebidas pelas crianças e jovens como protectoras e “amigas”,
por exemplo os membros da Igreja.
Este cenário ajuda a explicar a grande dificuldade e culpa que crianças e jovens vítimas de
abuso sentem em denunciar o facto de que pessoas que cuidam delas lhes façam
mal e a falta de credibilidade eventual das suas queixas bem como das
consequências para si próprias, uma vez que se sentem quase sempre abandonadas
e sem interlocutores em que possam confiar. Esta questão ajuda a explicar tantas dificuldades na investigação, nas queixas e nas provas.
Neste quadro continua a ser absolutamente
necessário que as pessoas que lidam com crianças, designadamente na área da
saúde e da educação, sejam capazes de “ler” os miúdos e os sinais que emitem de
que algo se passa com eles.
Esta atitude de permanente,
informada e intencional atenção aos comportamentos e discursos dos miúdos é, do
meu ponto de vista, uma peça chave para minimizar a tragédia dos abusos.
O que não é aceitável é
minimizá-la porque os casos são reduzidos. Insisto, um já seria demais
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