A partir de Setembro deste ano a
escolaridade obrigatória em França começará aos 3 anos, Actualmente, tal como
em Portugal, é aos 6 anos que se inicia. Em França estima-se que 97% das
crianças de 3 anos frequentem a “escola maternal” sendo que a maioria das que
não frequentam vivem em agregados familiares com menores recursos económicos. É
esta situação que a medida de obrigatoriedade visa combater alicerçando os
percursos educativos numa base de maior equidade.
Em Portugal a situação tem os
mesmos contornos com algumas diferenças.
No Relatório do CNE “Estado da
Educação 2016” verificava-se que a frequência da educação pré-escolar em
particular por crianças de quatro e cinco anos entre 2012/2013 e 2015/2016
passou de 97,9% em 10/11 para 94,8% em 15/16.
As razões para tal poderão
prender-se, teria de ser confirmado, com os custos demasiado altos para muitas
famílias da frequência de estruturas de educação pré-escolar.
No entanto, são mais conhecidos
os efeitos positivos da sua frequência por parte das crianças, daí a
preocupação com este abaixamento.
É recorrente a divulgação de
informação referindo a existência de muitas crianças nas listas de espera de creches
e jardins-de-infância no chamado sector social em que as mensalidades são
indexadas aos rendimentos familiares. Esta situação afecta sobretudo zonas mais
urbanas e a alternativa da resposta privada é inacessível para muitas famílias.
Também o relatório "Starting
Strong 2017", divulgado pela OCDE e que já aqui citei mostra que as
famílias portuguesas são das que realizam mais esforço para assegurar educação
pré-escolar. Dito de outra maneira, Portugal tem um dos mais elevados custos de
equipamentos e serviços para crianças em idade de pré-escolar.
O Governo tem afirmado o
objectivo de alargar progressivamente a universalidade da educação pré-escolar
tentando garantir a resposta universal para as crianças de três anos em 2019.
Sabe-se que o processo tem decorrido com algumas dificuldades dada a
inexistência de respostas suficientes para a procura designadamente em áreas
geográficas de demografia mais densa.
Não tenho certezas sobre a
obrigatoriedade da frequência mas tenho a maior convicção no sentido de que
garantir a universalidade do acesso à educação pré-escolar aos três anos e
criar respostas de qualidade, acessíveis, logística e economicamente, às famílias para as
crianças dos zero aos três anos é imprescindível e urgente. Acentuo a ideia de
que este período, até aos três anos, deveria também estar sob tutela do
Ministério da Educação e não da Segurança Social pois o acolhimento das
crianças deve estar abrangido por um forte princípio de intencionalidade
educativa.
Sabemos todos como o
desenvolvimento e crescimento equilibrado e positivo dos miúdos é fortemente
influenciado pela qualidade das experiências educativas nos primeiros anos de
vida, de pequenino é que ...
Assim, existem áreas na vida das
pessoas que exigem uma resposta e uma atenção que sendo insuficiente ou não
existindo, se tornam uma ameaça muito séria ao futuro, a educação de qualidade
para os mais pequenos é uma delas.
No entanto, como frequentemente
aqui tenho escrito e frequentemente afirmo, a educação pré-escolar é bastante
mais que a “preparação” para a escola e não deve ser entendida como uma etapa
na qual os meninos se preparam para entrar na escola embora se saiba do impacto
positivo que assume no seu trajecto escolar.
Na verdade, as crianças estão a
preparar-se para entrar na vida, para crescer, para ser. A educação pré-escolar
num tempo em que as crianças estão menos tempo com as famílias tem um papel
fundamental no seu desenvolvimento global, em todas as áreas do seu funcionamento
e na aquisição de competências e promoção de capacidades que têm um valor por
si só não entendidos como uma etapa preparatória para uma parte da vida futura
dos miúdos, a vida escolar.
Este período, a educação
pré-escolar, cumprido com qualidade e acessível a todas as crianças, será, de
facto, um excelente começo da formação institucional de cidadãos. Esta formação
é global e essencial para tudo que virão a ser e a fazer no resto da sua vida.
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