Desde o início se notou que o
Rapaz não funcionava como as outras pessoas. Em bebé chorava com um choro
estranho, pouco habitual nos outros bebés. As suas primeiras palavras também
não soavam como as dos seus companheiros de creche, tinham uns sons por vezes
esquisitos. Quando entrou na escola as diferenças mantiveram-se, o Rapaz tinha
uma linguagem perceptível, um vocabulário ajustado à idade, mas as palavras
ditas por si tinham frequentemente uma entoação estranha que o distinguia dos
outros.
A situação ficou mais evidente
quando colocaram o Rapaz em actividades em que tinha de cantar. Todo a gente
achava um pesadelo, nunca se tinha visto, ou melhor, nunca se tinha ouvido um
rapaz com tanta falta de jeito para cantar.
Os professores destas áreas
foram-lhe pedindo para nem sequer tentar cantar porque, diziam, era
insuportável ouvir aquele som que o Rapaz tenta esforçadamente produzir.
O Rapaz foi-se assim habituando a
ficar calado e só quando não podia deixar de ser comunicava com alguém e cantar
deixou mesmo de o fazer. Na verdade, quando estava só ensaiava cantar e achava
que o que os seus ouvidos lhe mostravam não era assim tão mau como lhe diziam.
O seu comportamento, discreto, calado, tornou, assim, suportável a sua presença
junto das pessoas.
O Rapaz aprendeu que o mundo não
gosta de desafinados, percebeu que dificilmente faria parte de qualquer coro.
Ficou algo desconsolado porque gostava muito de música e de cantar, como quase
toda a gente.
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