Para fugir um pouco à agenda da
educação, o conflito entre docentes e um ME que parece em fuga para a frente
tardando um processo de negociação sem o qual todos muito provavelmente perderão,
incluindo alunos, umas notas sobre pais e filhos.
A imprensa de hoje faz a
referência a um estudo divulgado recentemente na Developmental Psychology que
acompanhou durante oito anos um grupo de 422 crianças, entre os 2 e os 10 anos,
e respectivas mães. Os dados sugerem que excesso de controlo, superprotecção,
parece promover comportamentos e emoções menos reguladas nas crianças, ter
impacto no ajustamento escolar e nas estratégias de auto-regulação à entrada na
pré-adolescência.
O estudo, cuja metodologia sugere
alguma reserva no estabelecimento de relações de causa-efeito merece, no
entanto, alguma reflexão.
Os que por aqui vão passando reconhecem
a frequência com que abordo a importância da promoção da autonomia das crianças
como um dos princípios fundadores da educação familiar. O mesmo discurso e a
forma de intervir neste sentido nos contextos familiares preenchem também boa
parte do trabalho que realizo com pais e com futuros profissionais meus
colegas.
Algumas notas repescadas de
textos anteriores. De facto, um processo
educativo terá com eixo estruturante a construção de gente que sabe tomar conta
de si própria da forma adequada à idade e à função, actividade ou contexto em
que se encontra. Este entendimento traduz-se num esforço contínuo de promover a
autonomia das crianças e jovens para que "saibam tomar conta de si
próprios", no fundo, a velha ideia de, "ensinar a pescar, em vez de
dar o peixe".
Parece-me fundamental que
adoptemos comportamentos que favoreçam esta autonomia dos miúdos e dos jovens.
No entanto, é minha convicção que por razões que se prendem com os estilos de
vida, com os valores culturais e sociais actuais, com as alterações das
sociedades, questões de segurança, por exemplo, estamos a educar os nossos
miúdos de uma forma que não me parece, em termos genéricos, promotora da sua
autonomia e auto-regulação.
Parece-me fundamental que
adoptemos comportamentos que favoreçam esta autonomia dos miúdos e dos jovens.
No entanto, é minha convicção que por razões que se prendem com os estilos de
vida, com os valores culturais e sociais actuais, com as alterações das
sociedades, questões de segurança, por exemplo, estamos a educar os nossos
miúdos de uma forma que não me parece, em termos genéricos, promotora da sua
autonomia apesar das inúmeras habilidades e competências que desde muito cedo
revelam.
A rua, a abertura, o espaço, o
risco (controlado obviamente), os desafios, os limites, as experiências, são
ferramentas fortíssimas de desenvolvimento e promoção dessa autonomia. É neste
contexto que devem ser colocadas, trabalhadas e decidas as dúvidas sobre o que
criança ou adolescente pode ou não fazer só.
Por outro lado, os miúdos são
permanentemente bombardeados com saberes e actividades que serão obviamente
importantes para o seu desenvolvimento e para o seu futuro mas, ao mesmo tempo,
são miúdos, pouco autónomos, pouco envolvidos nas decisões que lhes dizem
respeito cumprindo agendas que lhes não dão margem de decisão sobre o quê e o
porquê do que fazemos ou não fazemos. Acabam por se tornar menos capazes de
decidir sobre o que lhes diz respeito, dependem da "decisão de quem está à
sua volta, companheiros ou adultos.
Um exemplo, para clarificar. Um
adolescente não habituado a tomar decisões, a fazer escolhas, mais dificilmente
dirá não a uma oferta de um qualquer produto ou um a convite de um colega para
um comportamento menos desejável. É mais difícil dizer não do que dizer sim aos
companheiros da mesma idade. Num sala de aula é bem mais provável que um
adolescente tenha um comportamento adequado porque "decida" que é
assim que deve ser, do que por "medo" das consequências.
Só miúdos autónomos,
autodeterminados, informados e orientados sobre os riscos e as escolhas serão
mais capazes de dizer não ao que se espera que digam não e escolher de forma
ajustada o que fazer ou pensar em diferentes situações do seu quotidiano. Este
entendimento sublinha a importância de em todo processo de educação, logo de
muito pequeno, em casa e na escola, se estimular a autonomia dos miúdos.
Creio que este entendimento está
pouco presente em muito do que fazemos em matéria de educação familiar ou
escolar e para todos os miúdos.
Todos beneficiariam, miúdos e
adultos.
Sem comentários:
Enviar um comentário