A Associação ILGA Portugal —
Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo divulgou o “Estudo
Nacional Sobre o Ambiente Escolar — Jovens LGBTI+ 2016/2017” realizado ISCTE e
pela U. do Porto envolvendo perto de 700 jovens com idades compreendidas entre
os 14 e os 20 anos.
Alguns dados, mais de 62% dos
inquiridos reporta comentários negativos feitos de pessoal docente e não
docente de natureza ocasional e 28.5% refere regularidade nesses comentários.
Os comentários negativos são
sobretudo produzidos por colegas, 75.1%.
Sendo a maioria das agressões de
natureza verbal também se relatam agressões físicas, 7.7%.
De registar ainda que 73,6%
refere ter sentido alguma forma de exclusão intencional por parte dos colegas e
quase 65% foi alvo de rumores ou mentiras sobre si na escola.
É ainda relevante que apenas um
em cada dez inquiridos denunciou regularmente a situação de vitimização e
constata-se que em escolas onde se desenvolve trabalho sobre estas questões a
situação é mais positiva.
Os dados agora divulgados vêm em
linha com a realidade, são frequentes os discursos ou comportamentos
discriminatórios face à orientação sexual ou identidade de género em contexto
escolar.
Em 2017 a Agência para os
Direitos Fundamentais da União Europeia referia que 94% dos jovens LGBT ouvem
ou testemunham comentários e comportamentos negativos em contexto escolar em
Portugal". Já se referia também que a apresentação de queixa por parte das
vítimas é rara.
Com demasiada frequência os
problemas das minorias são eles próprios percebidos como problemas minoritários, menores ou
mesmo como não problemas.
Em 2014 foi divulgado um estudo
referindo as dificuldades das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens em
lidar com crianças e jovens com orientações sexuais diferentes, um problema que
raramente é abordado mas que é fonte de sofrimento para muitas crianças,
adolescentes famílias.
Um Relatório da Rede Ex-Aequo
referia que no ano de 2012 se registaram 37 denúncias de homofobia e
transfobia, sendo que 42 % da juventude lésbica, gay ou homossexual afirmou ter
sido vítima de bullying homofóbico, 67% dos jovens declarou tê-lo presenciado e
85% afirmou já ter ouvido comentários homofóbicos na escola que frequenta. Em
muitas situações desta natureza emergem quadros “baixa auto-estima, isolamento,
depressões e ideação e tentativas de suicídio”, contribuindo ainda para o
insucesso e para o abandono escolar de muitos jovens. O mesmo relatório referia
ainda episódios recorrentes de bullying homofóbico em contextos de praxes
académicas, situação que já aqui também comentei.
Recordo que em Novembro de 2011,
dados da UNESCO referiam que cerca de 70 % de alunos homossexuais afirma ser
vítima de bullying.
De facto, parece evidente o risco
de sofrimento por parte destes adolescentes e jovens.
Sabemos também que tanto como
intervir na remediação e apoio é fundamental entender que o público mais jovem
terá de ser sempre ser um alvo privilegiado, é de "pequenino que se torce
o pepino".
Parece também claro que face à
dimensão dos incidentes de bullying, de discriminação ou de má abordagem, que
continuam a verificar-se dirigidos a um alvo em particular a que acrescem os
outros comportamentos da mesma natureza, esta questão se transforme numa preocupação
não ideológica mas de direitos e de natureza civilizacional no contexto das
políticas e processos educativos.
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