A imprensa de hoje refere dados da
Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência segundo os quais de 15/16
para 16/17 tivemos menos 20281 alunos no ensino básico e mais 3228 docentes.
Ressuscita-se, certamente por coincidência,
o número de professores no sistema e, sobretudo, a ideia de professores a mais. Alguns dos títulos são bons exemplos.
Antes de algumas notas convém não
esquecer que segundo a Fenprof estima-se que estarão de baixa médica cerca de 12000
professores.
Talvez seja também de recuperar,
pensando nas consequências a curto/médio prazo, que conforme o Relatório
“Perfil do Docente” também da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação de 2016
e considerando dados de 14/15, apenas 1.4% dos docentes que leccionam em escolas
públicas têm menos de 30 anos, não chegam a 500.
Acresce que o grupo etário com
mais de 50 anos é o mais representado, 39.5%. Se a este grupo adicionarmos o
escalão imediatamente anterior, 40 aos 49, temos que 77,3% dos docentes estão
nos dois grupos mais velhos.
Como escrevi há uns dias se
juntarmos o baixo número de saídas para aposentação num país preocupado com o
futuro este cenário faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir
em conformidade.
Como já tenho referido, parece-me
claro que a questão do número de professores necessário ao funcionamento do
sistema é uma matéria bastante complexa que, por isso mesmo, exige serenidade,
seriedade, rigor e competência na sua análise e gestão, justamente o que
tem faltado nesta matéria, incluindo a alguns discursos de representantes dos
professores.
Para além da questão da
demografia escolar, muitas vezes usada de forma demagógica, importa não
esquecer que existem muitos professores deslocados de funções docentes, boa
parte em funções técnicas e administrativas que em muitos casos seriam
dispensáveis pois fazem parte de estruturas do Ministério pesadas, burocráticas
e ineficazes.
Por outro lado, os modelos de
organização e funcionamento das escolas, com uma série infindável de estruturas
intermédias e com um excesso insuportável de burocratização, retiram muitas
horas docentes ao trabalho dos professores que estão nas escolas.
No entanto e do meu ponto de
vista, o “excesso” de professores no sistema e sem trabalho deve ser também
analisado à luz das medidas Política Educativa que há anos têm vindo a ser
seguidas.
Conhecendo os territórios
educativos do nosso país, julgo que faria sentido que os recursos que já estão
no sistema, pelo menos esses e incluindo os contratados com muitos anos de
experiência, fossem aproveitados em trabalho de parceria pedagógica, que se
permitisse a existência em escolas mais problemáticas de menos alunos por turma
ou ainda que se utilizassem em dispositivos de apoio a alunos em dificuldades.
Os estudos e as boas práticas
mostram que a presença de dois professores na sala de aula são um excelente
contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de problemas de
comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às dificuldades dos
alunos.
Sendo exactamente estes os dois
problemas que afectam os nossos alunos, talvez o investimento resultante da
presença de dois docentes ou de mais apoios aos alunos, compense os custos
posteriores com o insucesso, as medidas remediativas ou, no fim da linha, a
exclusão, com todas as consequências conhecidas. Talvez fosse também um caminho
para a promoção de mais qualidade e inclusão, ou, dito de outra maneira, para
combater o insucesso e o abandono.
É só fazer contas mas, não apenas
para um ano.
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