Embora continue a entender que
não existem “manuais de instrução” para a educação familiar parece-me
interessante e útil reflectir sobre o conteúdo da entrevista de Sofie Münster no Observador. É sublinhado um aspecto que me parece central como em tantas sessões de
trabalho com pais tenho sublinhado, a promoção da autonomia e auto-regulação
das crianças, formulação que prefiro à de auto-controlo afirmada por Sofie M ünster.
De facto, sem acreditar na educação
perfeita da criança perfeita acredito num princípio fundador da educação
familiar, a promoção da autonomia e da auto-regulação desde bebé, sim desde
bebé, até … sempre.
Neste sentido e de há muito, sempre
que penso ou falo de educação me lembro de um texto de Almada Negreiros em que
se afirma "... queria que me
ajudassem para que fosse eu o dono de mim, para que os que me vissem dissessem:
Que bem que aquele soube cuidar de si". Este enunciado ilustra, do meu
ponto de vista, a essência da educação, seja familiar ou escolar, em qualquer
idade.
Um processo educativo terá com
eixo estruturante a construção de gente que sabe tomar conta de si própria da
forma adequada à idade e à função, actividade ou contexto em que se encontra.
Este entendimento traduz-se num esforço contínuo de promover a autonomia das
crianças e jovens para que "saibam tomar conta de si próprios", no
fundo, a velha ideia de, "ensinar a pescar, em vez de dar o peixe".
Parece-me fundamental que
adoptemos comportamentos que favoreçam esta autonomia dos miúdos e dos jovens.
No entanto, é minha convicção que por razões que se prendem com os estilos de
vida, com os valores culturais e sociais actuais, com as alterações das
sociedades, questões de segurança, por exemplo, estamos a educar os nossos
miúdos de uma forma que não me parece, em termos genéricos, promotora da sua
autonomia e auto-regulação.
A rua, a abertura, o espaço, o
risco (controlado obviamente), os desafios, os erros, os limites, as
experiências, são ferramentas fortíssimas de desenvolvimento e promoção dessa
autonomia.
Tenho também a convicção de que os
pais são, de uma forma geral, intuitivamente competentes. Mais
"asneira", menos "asneira", mais uma "festinha",
menos um "ralhete" e o caminho cumpre-se sem grandes problemas. Um
discurso social excessivo em torno da "psicologização" ou induzindo a
ideia de que só indo a uma "escola de pais" e lendo vários
"manuais de instruções" poderemos ser bons pais, pode ser mais fonte
de inquietação que de ajuda.
Parece-me sobretudo importante
que os pais falem entre si sobre as suas experiências, sem receio de que os
julguem maus pais. Importa inda que na relação com os técnicos ligados à
educação as conversas não incidam quase que exclusivamente sobre "se está
bem ou mal na escola", mas que se abordem as questões educativas também no
contexto familiar de forma aberta e serena. Os "manuais de instruções"
não são a solução, são, alguns, apenas mais uma ajuda.
Pais atentos, pais confiantes,
são pais que educam sem especiais problemas. Paradoxalmente, alguns
"manuais" e alguns discursos "científicos" podem aumentar a
insegurança e a ansiedade de alguns pais.”
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