Já foram divulgados os resultados
das provas de aferição que, naturalmente, mostram indicadores mais
positivos e menos positivos em todas as áreas avaliadas incluindo a Expressão Físico-motora no1º ciclo.
Não creio que aqui tenhamos algo
que surpreenda quem conhece os nossos territórios educativos.
Também não vale a pena inventar a
roda e “inovar”, sempre a inovação” através de alterações entre notas, níveis e
relatórios, Tudo isto é conhecido de toda a gente e sendo importante não me parece que seja o essencial.
Como tenho escrito o que me
parece crítico é discutir o que fazemos com os resultados, com os relatórios, nas suas várias formulações.
Como disse desde o início deste
ciclo, continuo com muitas dúvidas sobre a realização das provas de aferição
em anos intermédios dos ciclos, 2º, 5º e 8º. Uma aferição, creio, deverá ser
realizada no final de um período de aprendizagem. Só nessa altura será possível
“aferir” os resultados que se encontram face aos resultados que se esperam e
ter uma visão global comparativa.
Uma avaliação durante um período
de trabalho com o objectivo de detectar dificuldades e corrigir trajectórias é
evidentemente um requisito de qualidade mas é, do meu ponto de vista, uma
avaliação de diagnóstico, de regulação, não de aferição. Ora esta avaliação
diagnóstica será e deverá ser realizada diariamente pelos professores na gestão
dos processos e actividades de aprendizagem.
Ainda assim deveremos olhar para
estes resultados não esquecendo a sua eventual contaminação pela representação
que os discursos sobre as provas de aferição podem ter provocado nos alunos e
famílias no sentido da sua
desvalorização.
Também é aceite que apesar do
peso das variáveis relativas aos alunos e contexto social, económico e
cultural, o trabalho na e da escola e dos professores é um factor
significativamente explicativo do sucesso dos alunos mais vulneráveis e capaz
de contrariar ou minimizar o peso dessas variáveis.
Este trabalho da e na escola
envolve dimensões como organização e funcionamento, clima, níveis de
colaboração e cooperação, estilo e competência das lideranças, por exemplo e,
definitivamente, o trabalho em sala de aula em que surge a diferença produzida
pelo professor, pelos professores.
Quando abordo estas questões cito
com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children,
"O factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a
existência de um professor qualificado e empenhado". É uma estranha
coincidência falar da valorização dos professores quando boa parte da classe se
sentirá profundamente desconsiderada.
Quanto ao que fazer, a questão
central, começam as dúvidas.
Terá a generalidade das escolas
recursos (tempo, docentes e técnicos) e autonomia para organizar dispositivos
de correcção de trajectórias escolares de insucesso ou em risco detectadas
nestas provas de aferição?
Também sabemos que o sucesso se
constrói identificando e prevenindo dificuldades de forma precoce, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
eficazes, competentes e suficientes a alunos e professores, com a definição de
políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e
modelos adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento das
escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, com a
valorização do trabalho dos professores, com práticas de diferenciação e
expectativas positivas face ao trabalho e face aos alunos, com melhores níveis
de trabalho cooperativo e tutorial, quer para professores quer para alunos,
etc.
Sabemos tudo isto. Nada é novo.
Só falta um pequeno passo.
Construir para todos os miúdos
trajectórias de sucesso. Não, não é uma utopia. Tal como o insucesso não é uma
fatalidade do destino.
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