sexta-feira, 1 de junho de 2018

CRESÇAM DEVAGARINHO, NÃO TENHAM PRESSA


Há pouco ao passar numa rua aqui perto tive de parar pois uma carrinha recolhia um grupo de crianças de um Jardim de Infância para, provavelmente, as levar para mais uma iniciativa no âmbito do Dia Mundial da Criança. Fiquei a ver a miudagem em fila a entrar para a carrinha e achei que iam felizes.
Naquele tempo de espera comecei a pensar no que esperará aquela gente pequena. No que andamos nós a fazer para os receber à medida que crescem.
Daqui a pouco tempo começarão a ser intoxicados com escola, oito ou dez horas por dia, e será o tempo, muita gente lhes lembrará amiúde, em que acabou a brincadeira, é o tempo da escola "a sério".
Rapidamente começarão a ser pressionados para a excelência, o mundo não é para gente sem sucesso. Vão ter que adquirir competências e saberes, muitas, em montes de coisas, porque é preciso ser bom em tudo.
Vão começar a perceber como anda confusa a cabeça dos adultos, como estamos sem perceber o nosso presente e com dificuldade de antecipar o futuro, que será o presente deles.
Vão, parte deles, desaprender de rir, de se sentir bem e de brincar, a coisa mais séria que sempre fizeram e deveriam continuar a fazer.
Vão ouvir cada vez mais frequentemente qualquer coisa como "não podes fazer isso, já és um homenzinho, ou uma mulherzinha", como se as mulherzinhas e os homenzinhos já crescidos não fizessem asneiras.
Vão conhecer tempos em que se sentem sós e perdidos com um mundo demasiado grande pela frente.
Mais cedo ou mais tarde, alguns deles, vão sentir uma dor branda que faz parte do crescer mas que, às vezes, não passa com o crescer.
Também sei muitos vão continuar a ser sentir-se bem, por dentro e para fora.
Antes que a carrinha se pusesse em andamento ainda pensei em aproximar-me e gritar-lhes, "Cresçam devagarinho, não tenham pressa".

Sem comentários: