De acordo com o JN, o Ministério
da Educação terá decidido que as cantinas de todas as escolas públicas
funcionarão durante os períodos de férias de Natal e Páscoa no próximo ano
lectivo.
Nunca é demais chamar a atenção
para a situação de extrema dificuldade que muitas famílias ainda atravessam
para assegurar condições básicas de qualidade de vida como a alimentação.
Sabe-se também que as crianças e
idosos constituem grupos altamente vulneráveis a situações de privação.
É também conhecido que muitas
crianças e adolescentes encontram na escola a única refeição consistente e
equilibrada a que acedem levando a que em muitas autarquias as cantinas
escolares funcionem também no período de férias ou de interrupção de aulas.
O impacto das circunstâncias de
vida no bem-estar das crianças, em particular no rendimento
escolar e comportamento, é por demais conhecido e essas circunstâncias
constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono
quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas
ao nível das necessidades básicas.
Em qualquer parte do mundo,
miúdos com fome, com carências, não aprendem e mais provavelmente vão continuar
pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e
incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não
estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Como muitas vezes já contei,
a melhor análise que já ouvi sobre esta relação, alimentação e educação, foi
produzida pelo Velho Carlos Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da
guarda durante uma estadia profissional em Inhambane, Moçambique.
Um fim de tarde, descíamos uma
rua e passámos por uma escola básica. Olhou para escola e para os miúdos que estavam
a sair e disse-me “se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela
escola”.
Perante a minha estranheza,
explicou que aqueles miúdos haveriam de comer até se rir, “só aprende quem se
ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não
prendem e vão continuar pobres.
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