No Observador encontra-se um texto
sobre os TPC que merece leitura e reflexão, "TPC: trabalho ou tortura para casa?”.
O autor, Hugo Rodrigues, não é do universo da educação mas do mundo das crianças e adolescentes,
é pediatra. Também por esta razão justifica leitura.
Muitas vezes aqui tenho escrito
na lida profissional abordado a questão dos TPC, matéria sempre em aberto. Mais
uma vez e a este propósito retomo algumas notas.
Talvez fruto do clima de
fortíssima crispação que nos últimos anos envolve a educação, os debates e as
ideias também tendem a ser crispados, com opiniões definitivas e sem margem de
entendimento. Também assim tende a acontecer quando se discute a questão dos
TPC, ser contra ou ser a favor. Mais uma vez e sem qualquer visão
fundamentalista fica um contributo para uma discussão e mudanças que me parecem
necessárias, aliás, umas não vão sem a outra.
Não tenho nenhuma posição
fundamentalista, insisto, mas creio que deve distinguir-se com clareza o
Trabalho Para Casa e o Trabalho Em Casa. O TPC é trabalho da escola feito em
casa, o trabalho em casa será o que as crianças podem fazer em casa que, não
sendo tarefas de natureza escolar, pode ser um bom contributo para as
aprendizagens dos miúdos. O que acontece mais frequentemente é termos Trabalhos
Para Casa e não Trabalho Em Casa.
Os TPC clássicos têm ainda o
problema de colocar com frequência os pais em situações embaraçosas, querem
ajudar os filhos mas não possuem habilitações para tal ou recursos para
procurar ajuda externa, o universo das “explicações” nas suas várias
designações.
Torna-se, pois, necessário que
professores e escolas se entendam sobre esta matéria, diferenciando trabalho de
casa, igual ao da escola, de trabalho em casa, trabalho em que qualquer pai
pode, deve, envolver-se e é útil ao trabalho que se realiza na escola.
Tudo isto considerado, o recurso
ao TPC deveria avaliar se o aluno, cada aluno, tem capacidade e competência
para o realizar autonomamente, por exemplo, o treino de competências
adquiridas. Na verdade, porque milagre ou mistério, uma criança que tem
dificuldade em realizar os seus trabalhos na sala de aula, onde poderá ter
apoio de professores e colegas, será capaz de os realizar sozinha em casa?
Naturalmente tal só acontecerá com a ajuda dos pais ou, eventualmente, de "explicadores"
a que muitas famílias, sabemos quais, não conseguem aceder.
No entanto, do meu ponto de
vista, sobretudo nas idades mais baixas, o bom trabalho na escola deveria
dispensar o TPC. É uma questão de saúde e qualidade de vida como também defende
Hugo Rodrigues no texto do Observador.
Parece ainda de sublinhar que os
estudos sugerem que é sobretudo a qualidade das aulas, mais do que o tempo
global de aprendizagem que está associado ao sucesso na aprendizagem. Aliás, no
citado relatório da OCDE também se conclui que não há uma relação significativa
entre o número médio de horas gastas nos TPC e os resultados escolares.
Andaríamos melhor se
reflectíssemos sem preconceitos e juízos fechados sobre questões desta
natureza. Não é uma questão de ser a favor ou contra os TPC, é reflectir sobre
o que são? Como se utilizam? Que efeitos na generalidade dos alunos? Como se
adaptam às circunstâncias e diferenças de contexto dos alunos como idade/ciclo
de escolaridade, estilos de vida e nível de escolarização familiar, etc.
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