Não sei por coincidência ou
intenção o Parlamento agendou para hoje, Dia Internacional da Língua Materna a discussão
em sessão plenária da Petição “Cidadãos contra o Acordo Ortográfico de 1990” e de
um projecto de resolução do PCP que “recomenda o recesso, a realização de um
balanço e uma nova negociação das bases e termos de um eventual futuro acordo
ortográfico”, conforme o Público.
Trata-se de mais uma iniciativa
entre várias outras que procura resistir enquanto for possível ao atropelo à
Língua Portuguesa que o Acordo Ortográfico representa e que, é bom lembrar, ainda não foi ratificado por Angola e Moçambique, apenas Portugal, Cabo Verde e
Brasil o implementaram e desconheço a situação em S. Tomé e Príncipe, Timor e
Guiné-Equatorial.
Vale a pena insistir, importa que
não nos resignemos. É uma questão de cidadania, de defesa da Cultura e da
Língua Portuguesa.
Como tantas vezes tenho escrito,
desculpem a insistência e não inovar, entendo, evidentemente, que as línguas
são estruturas vivas, em mutação, pelo que requerem ajustamentos, por exemplo,
a introdução de palavras novas ou mudanças na grafia de outras, o que não me
parece sustentação suficiente para o que o Acordo Ortográfico estabelece como
norma.
Não sou, evidentemente, um
especialista mas parece-me que o cerne da questão reside, de facto, no
entendimento, cito o presidente da Academia das Ciências de Lisboa, de que
“Qualquer tentativa de uniformização ortográfica nos diversos países que usam a
língua portuguesa como oficial é utópica” e que “o normal é o respeito pelas
ortografias nacionais".
É esta perspectiva que informa o
que se passa, por exemplo, com o inglês ou o castelhano/espanhol que têm
algumas diferenças ortográficas ou na linguagem oral nos diferentes países em
que são língua oficial, sem que daí advenha qualquer perturbação ou drama mas
isto dever-se-á, certamente, a ignorância minha e à pequenez irrelevante
daquelas comunidades anglófonas ou com língua oficial castelhano/espanhol.
Acresce que as explicações que os
defensores, especialistas ou não, adiantam não me convencem da sua bondade,
antes pelo contrário, acentuam a ideia de que esta iniciativa não defende a
Língua Portuguesa. O seu grande defensor Malaca Casteleiro refere até
"incongruências" no AO, o que, aliás, me parece curioso, para ser
simpático. Dito de outra maneira, desencadeamos um acordo com esta amplitude e
implicações para manter "incongruências e imperfeições" que abastardam
a ortografia da Língua Portuguesa.
Por outro lado, a grande razão, a
afirmação da língua portuguesa no mundo, também não me convence. Voltando ao
exemplo do inglês e do castelhano/espanhol que têm diferenças ortográficas nos
diferentes países em que são língua oficial, não parece sejam conhecidas particulares
dificuldades na sua afirmação, seja lá isso o que for.
O que na verdade vamos conhecendo
com exemplos extraordinários é a transformação da Língua Portuguesa numa
mixórdia abastardada.
Como tenho escrito e repito, vou
continuar a escrever assim, desacordadamente.
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