O JN de ontem, com chamada a 1ª página,
refere as reservas que alguns pais e directores de escolas envolvidas no projecto-piloto
de autonomia e flexibilidade curricular em desenvolvimento em 233 escolas expressam
relativamente à situação no secundário. Ao que parece, boa parte das escolas
não introduz mudanças no 10º ano apesar de as entenderem globalmente positivas
pois não sabem que reflexo essa alteração poderá ter no desempenho dos alunos
nos exames. Aliás, referem mesmo a existência de “Medo dos exames nacionais”.
Na peça do JN aparece até escrito
algo que me causa a maior perplexidade, “se o ME não resolver o
"dilema" entre os dois métodos de ensino, este receio pode revelar-se
um obstáculo à generalização do projecto”. E voltamos ao mesmo, ou seja, à
revolução, à inovação, ao novo paradigma, aqui expresso em modo dicotómico, “dois
métodos de ensino”. Presumo que um é o “bom” e o outro é o “mau”. Quais “métodos
de ensino”? Será assim? O trabalho em sala de aula pode ser assim “arrumado”?
Que enorme conjunto de equívocos este enunciado contém!
No entanto e do meu ponto de
vista existe uma outra questão que merece reflexão.
De facto, importaria que as mudanças ou experimentação em educação entendidas por necessárias não se realizassem de forma apressada, sem um consenso tão sólido quanto possível sobre objectivos, conteúdos e calendário e a consideração prévia das condições e requisitos que sustentem as mudanças em execução e que, reafirmo, me parecem necessárias e num sentido positivo.
Como muitas vezes refiro, é tão importante "fazer as coisas certas como fazer certas as coisas". Se bem repararmos nem sempre isto se verifica, mesmo na nossa acção individual. Em políticas públicas é ainda mais necessário.
É claro o risco de transformar algo de positivo num problema. Eu sei que não é fácil prever tudo mas existem situações em que as falhas devem ser mínimas. Poder criar-se um efeito e uma representação negativa sobre a mudança, alimentam-se as opiniões críticas face a essa mudança, surgem dificuldades dispensáveis aos alunos e escolas e finalmente, comprometem-se os próprios resultados.
Eu sei que não é fácil prever tudo mas existem situações em que as perturbações devem ser mínimas. Os sobressaltos e hesitações podem criar um efeito e uma representação negativa sobre a mudança, alimentam as opiniões críticas face a essa mudança, colocam dificuldades dispensáveis aos alunos e escolas e finalmente, comprometem-se os próprios resultados fragilizando o entendimento o que é essencial.
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