É lançada a amanhã a segunda edição
do Orçamento Participativo das Escolas, uma iniciativa que convida os alunos do
3º ciclo e do ensino secundário a apresentar em cada escola propostas que visem
melhorar as suas conduições com uma verba atribuída pelo ME de 1€ por aluno num
mínimo de 500€ por escola. No dia 24 de Março, Dia do Estudante serão votadas as diferentes propostas.
Para além de outras considerações
sobre a iniciativa existe uma ideia nela contida que me parece importante,
promover o envolvimento dos alunos na vida da escola.
Uma das variáveis mais ligadas ao
comportamento e bem-estar das pessoas nas comunidades, instituições ou grupos é
o seu sentimento de pertença a essa comunidade, instituição ou grupo. Tal
também é verdade para as instituições educativas, quanto maior o sentimento
psicológico de pertença, de comunidade, existe, mais bem-estar e serenidade é
evidenciada nos comportamentos de todos os que nela desempenham funções,
alunos, professores, técnicos ou funcionários. Este sentimento traduz-se de
forma significativa nos comportamentos e na instalação de climas sociais e de
aprendizagem mais colaborativos e cooperantes entre os todos os intervenientes.
As iniciativas nas escolas seriam certamente mais interessantes do que movimentos
centralizados.
Assim sendo, seria desejável que no
âmbito dos projectos educativos e no exercício de uma real autonomia as escolas
e agrupamentos desenvolvessem com recursos e de forma intencional iniciativas
que contribuíssem para a fomento desse sentimento de ligação, de pertença, de
comunidade. É verdade que muitas escolas desenvolvem neste âmbito trabalhos de enorme interesse e qualidade que mereciam divulgação e reconhecimento.
Ainda mais umas
notas.
A experiência de vida ensina-nos
que o espaço em que nos movemos, vivemos, é algo de importante e organizador do
nosso funcionamento. Na grande maioria das famílias, desde que haja condições,
os lugares à mesa são preenchidos sempre da mesma forma, o pai senta-se sempre
no mesmo sofá, o quarto de cada utilizador é personalizado, etc., ou seja, cada
um tem o seu canto e é fundamental para nós sentirmos que temos um canto, um
canto, um espaço, que para além da dimensão física tem, sobretudo, uma dimensão
afectiva. No mundo profissional, a maioria das pessoas, independentemente do
trabalho que realiza, procura criar um canto, sente essa necessidade, é a
secretária decorada e arrumada ao jeito de cada um, é o canto da oficina com as
ferramentas e fotos dispostas com um critério pessoal, é o armário onde se
guarda o que é nosso, é a cabine do camião ou do táxi que não encontramos duas
iguais, etc.
Pois na maior parte das escolas
não existe um canto do aluno, um canto do professor ou um canto do funcionário.
Nas escolas pouca gente tem o seu canto. O director, alguns funcionários
administrativos, alguns professores de áreas específicas e poucos mais. Os
restantes são assim uma espécie de “homeless”. Os alunos mudam de sala, para
uma sala igual não têm uma sala Sua, não têm uma mesa Sua, não têm um armário
Seu, não têm o Seu canto. É óbvio que algumas disciplinas requerem espaços e
equipamentos específicos sendo, por isso, de utilização comum. Mas algumas
salas poderiam, existem escolas que o fazem, ser dedicadas a um grupo, sempre o
mesmo. Os materiais que lá ficam seriam daqueles alunos, os trabalhos expostos
seriam daqueles alunos, os armários seriam utilizados por aqueles alunos. Na
verdade, muitos professores sentem a mesma “orfandade” espacial, não têm um
canto que sintam como Seu, ainda que partilhado.
Neste cenário não fica fácil criar um sentimento de pertença, a Minha
escola, onde eu tenho o Meu canto. Esse canto, quando existe, tem, como disse
acima, uma dimensão afectiva, é, portanto, mais fácil gostar de um canto que é
nosso. Como diz Caetano Veloso, “quando a gente gosta, a gente cuida” e também é verdade que quando a gente cuida a gente gosta. Mas muitos alunos falam da “minha escola” sem que no fundo a "percebam" como sua e
por isso, muitos a destratam, ou seja, não a cuidam, não se cuidam, e não sentem que lhes pertence e que a elas pertencem. Alguns deles cobram através do comportamento e da desmotivação este sentir.
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