Em dia de S. Valentim consideremos
as relações de namoro mas no seu lado B, sim, existe o lado B desta relação que
deveria ser bonita.
Em nova edição do estudo da UMAR,
União de Mulheres Alternativa e Resposta, relativo a 2017 envolvendo 4652
jovens com uma média de 15 anos de idade em que cerca 3000 responderam já ter
estabelecido relações de namoro os dados são preocupantes.
Dos que já estabeleceram relações
de namoro 56% relatam comportamentos que configuram algum tipo de violência.
Cerca de 40% entende que impedir
o parceiro de usar algum tipo de roupa não é violência, como também 25% entende
que a troca de insultos numa discussão será “normal”,
Cerca de 4000 entendem que forçar
o beijo ou relações sexuais é “legítimo” como 25% acha que se não deixar marcas
ou ferida não existe agressão física.
Verdadeiramente preocupante como
é saber que os dados dos estudos da UMAR têm vindo a evidenciar o aumento da
incidência e do entendimento de normalidade.
Também outro trabalho agora conhecido
realizado no âmbito do Programa UNi+ — Prevenção da Violência no Namoro em
Contexto Universitário, desenvolvido pela Associação Plano i e desenvolvido em
contexto universitário com cerca de 1800 jovens com média de 23 anos é
inquietante. Mais de metade dos inquiridos, 56,5% foi vítima de violência no
namoro e 37% admitem ter assumido comportamentos dessa natureza. Estamos a
falar de estudantes universitários.
Esta realidade tem vindo a
assumir proporções inquietantes e, do meu ponto de vista, não tem merecido a
atenção que a sua gravidade e prevalência justificam. Provavelmente começa por
aqui a tragédia da violência doméstica que parece indomesticável.
Os dados que se conhecem
convergem no indiciar do que está por fazer em matéria de valores e
comportamentos sociais. Acresce que boa parte das situações de abuso não são
objecto de queixa.
Este conjunto de dados é
preocupante, gostar não é compatível com maltratar, mas creio que não é
surpreendente. Os dados sobre violência doméstica em adultos que permanece
indomesticável deixam perceber a existência de um trajecto pessoal anterior que
suporta os dados destes e de outros trabalhos. Aliás, nos últimos anos a
maioria das queixas de violência doméstica registadas pela APAV foram de
mulheres jovens.
Os sistemas de valores pessoais
alteram-se a um ritmo bem mais lento do que desejamos e estão, também e
obviamente, ligados aos valores sociais presentes em cada época. De facto, e
reportando-nos apenas aos dados mais gerais, é relevante a percentagem de
jovens, incluindo estudantes universitários, que afirmam um entendimento de
normalidade face a diferentes comportamentos que evidentemente significam
relações de abuso e maus-tratos.
Como todos os comportamentos
fortemente ligados à camada mais funda do nosso sistema de valores, crenças e
convicções, os nossos padrões sobre o que devem ser as relações interpessoais,
mesmo as de natureza mais íntima, são de mudança demorada. Esta circunstância,
torna ainda mais necessária a existência de dispositivos ao nível da formação e
educação de crianças e jovens; de uma abordagem séria persistente nos meios de
comunicação social; de um enquadramento jurídico dos comportamentos e limites
numa perspectiva preventiva e punitiva e, finalmente, de dispositivos eficazes
de protecção e apoio a eventuais vítimas.
Só uma aposta muito forte na
educação, escolar e familiar, pode promover mudanças sustentadas nesta matéria.
É uma aposta que urge e tão importante como os conhecimentos curriculares.
Entretanto e enquanto não mudo,
"só faço isto, porque gosto de ti, acreditas não acreditas?"
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