Nas relações que estabelecemos, a
forma como a autoridade, característica natural ou formal de muitas dessas
relações, é afirmada ou percebida muitas vezes a partir de alguns equívocos deixam -me sempre curioso e dão origem a episódios interessantes. Vejamos alguns
exemplos sem qualquer preocupação de ordenação e vividos na minha caminhada de décadas pelo universo da educação.
Uma das formas mais frequentes de
afirmar autoridade ou, pelo contrário, retirar autoridade a alguém é a
referência ao "terreno". São múltiplos os enunciados, "não
conhece o terreno", "não anda no terreno", "nós conhecemos
o terreno", "se vier ao terreno percebe", etc. A referência ao
"terreno" seja lá isso o que for, define conclusivamente onde está a
autoridade.
Também é muito interessante
habitual o uso da experiência, ou a variante idade, como afirmação definitiva
de autoridade. Deste entendimento decorrem discursos como, "quando tiveres
mais experiência já não vês assim", "ainda és muito novo, tens muito
que aprender", "na tua idade também era assim mas evoluí",
"já ando nisto há imenso tempo", etc. Está por provar que fazer
durante largos anos o mesmo conjunto de asneiras confira autoridade mas que se
acredita, acredita. Aliás, já uma vez há alguns anos dei por mim a perguntar a
alguém que me “esmagava” com a definitiva afirmação “sabe, já ando misto há
trinta anos”, se eram mesmo trinta anos de experiência ou trinta vezes o
primeiro ano.
Acho particularmente interessante
a valorização da prática como fonte de autoridade oposta à teoria de quem
estudou. "Isso é na teoria, na prática não é assim", "na prática
é que se aprende, não é nos livros", "é tudo teóricos não percebem
nada", etc., são bons exemplos desta autoridade conquistada por quem pratica
e não perde tempo a estudar.
Uma referência final à mais usada
e frequente fonte de autoridade, a indefinível autoridade moral. Com a maior
das facilidades, uma experiência de vida, um convicção política, uma crença
religiosa, um conjunto de opções em matéria de valores de diferente natureza,
servem de sustento para as definitivas "eu tenho autoridade para
...", "estou à vontade para defender isto porque eu próprio ..."
ou, na formulação mais livre, o recurso à fórmula "é assim ..." e
encerra-se a conversa.
É sempre uma experiência
interessante, estimulante e divertida, às vezes, passar por situações onde as
ideias e a sua troca são envolvidas nestas fontes de autoridade.
Só que cada vez vou tendo menos
paciência.
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