É sempre com agrado que registo o
facto de alguém com funções significativas em qualquer área ser capaz de se
centrar nas grandes questões e nas suas consequências e não se deter em
minudências que fazem a espuma dos dias.
Vem esta introdução a propósito
da preocupação do Bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, com o
tratamento dado aos médicos. Não, não é a forma como a tutela se relaciona com
a classe ou episódios de agressão e ofensa que vão acontecendo em unidades de
saúde. Trata-se do facto inaceitável de serem tratados por “doutor”.
Não pode ser diz o Bastonário, “Há
tantos licenciados. Toda a gente é doutor. Gostava de uma designação nova.
Doutor é um título que corresponde a uma licenciatura ou a um mestrado. Estas
nomenclaturas já estarão ultrapassadas. O que o doente tem que saber é o nome e
a profissão”.
Uma pequena precisão, “doutor” é
uma designação usada para quem realizou um doutoramento mas isto é irrelevante
e acontece também que Portugal é ainda um dos países da Europa com taxa mais
baixas de pessoas com qualificação superior pelo que a ideia de que “toda a
gente é doutor” é falsa mas o Bastonário não tem que saber tudo, evidentemente.
Verdadeiramente importante é que
o Dr. de medicina, na opinião do Dr. Miguel Guimarães, não pode ser comparado com os Drs. das outras áreas e que deve ter outra forma de ser tratado pelos “pacientes”
que o discrimine positivamente e não permita que se confunda com a multidão anónima
de “doutores” em que Portugal se tornou.
No entanto, o Dr. Miguel
Guimarães, (desculpe lá o Dr.) tem um problema, ainda não pensou qual seria o
tratamento adequado e afirma ir colocar a transcendente matéria à consideração
dos seus colegas.
Querendo contribuir para um
problema que fragiliza o trabalho dos médicos, como fazer perceber que um
Dr. de medicina é maior, melhor ou mais importante que os outros Drs., atrever-me-ia a sugerir duas hipóteses. Como primeira hipótese e considerando a função, o
médico poderia ser tratado por Sr. Médico ou Sra. Médica. Como segunda hipótese
e com maior potencial de tornar a relação médico/doente mais próxima, poderia recorrer-se ao
que nos identifica, o nome, claro. Assim, à nossa frente no consultório
teríamos o Sr. Miguel ou a D. Maria que nos cuidariam da saúde.
Não precisa de agradecer o
contributo, Sr. Miguel, ou prefere Sr. Médico?
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