sábado, 3 de fevereiro de 2018

DOS RANKINGS ESCOLARES, UM PRODUTO SAZONAL, ANO 2017

Aí está o produto sazonal que dá pelo nome de “rankings escolares”.
Apesar de continuar com dificuldade em defender a sua bondade não tenho uma atitude fundamentalista face à sua construção, sobretudo considerando a evolução que se tem verificado nos últimos anos, quer na disponibilização de informação por parte do ME para além dos “meros” resultados da avaliação externa, quer na forma como essa informação é tratada e divulgada por diferentes entidades.
E que mostram, ou não, os rankings?
Mostram que genericamente as escolas privadas apresentam melhores resultados e que também existem escolas privadas com resultados mais baixos.
Mostram que a maioria das escolas que maior discrepância apresenta entre a avaliação externa e a avaliação interna, sendo esta "inflacionada", são privadas sendo algumas persistentes na tarefa.
Ao contrário, mostram das que se revelam mais exigentes a maioria é do ensino público.
Mostram que existem escolas públicas com bons resultados e escolas públicas com resultados menos bons.
Mostram que existem escolas que face ao contexto sociodemográfico que servem conseguem bons resultados ou, pelo menos, progresso no trajecto dos alunos e que existem escolas públicas que ainda não conseguem contrariar o destino de muitos dos seus alunos.
Mostram que o nível de retenção é elevado e que o recurso à retenção não faz subir os resultados dos alunos.
Mostram que a menor dimensão das turmas pode em escolas em contextos menos favoráveis promover a melhoria de resultados.
Mostram que a tradição ainda é o que era, pais (mães) mais escolarizados, têm, potencialmente, filhos com melhores resultados.
Mostram que nas escolas com melhores resultados, em regra, são as que têm menos alunos abrangidos pela Acção Social Escolar.
Mostram que a escola, os professores, fazem a diferença.
Mostram ainda que se continua a falar de “melhores escolas” e “piores escolas” enviesando as várias leituras possíveis.
Mostram que …
Enfim, os rankings mostram tudo, só não mostram o que se fará a seguir com a informação que os rankings mostram. Na verdade, também não mostram o que não se pode medir mas se pode avaliar e que é tão essencial como o que se mede.
Deixem-me acrescentar que também mostram que “Estou cansada que só liguem nestas alturas. Os rankings só servem para sistematizar as escolas. São muito desmotivantes para quem faz um enorme esforço” Directora da Escola de Santo António no Barreiro (Expresso). E eu sei que fazem mesmo.
Deixem-me acrescentar que também mostram que “o nosso trabalho resulta da dimensão de turmas que temos e da dimensão da escola e também de muito trabalho de tutoria entre alunos e apoio dos professores” direcção e alunos da escola Básica e Secundária de Arga e Lima de Viana do Castelo que, no ranking do Expresso (ouvidos na RR), que o mérito decorre da “interiorização do conceito de partilha e entreajuda entre alunos”, que os professores trabalham em conjunto e com resultados que realçaram o trabalho da escola pelas boas razões”, que, “nós não temos medo de falar com os professores nem temos receio de perguntar ou pedir esclarecimentos depois das aulas” docentes e alunos da Escola Básica Sebastião da Gama em Estremoz (Público)Que "Não os levamos ao colo, mas percebemos que podemos dar um carinho e atenção que já não existe noutras escolas.” Diz uma professora de Matemática da Escola Henrique Sommer da Maceira, uma das que melhor contraria o destino de muitos alunos, o insucesso e a exclusão (Público).
Deixem-me acrescentar que também mostram que há escolas onde andam “os filhos de um deus menor”, Direcção do Agrupamento de Escolas de Paredes (Expresso).
Deixem-me acrescentar que “os rankings agravam o fosso entre escolas” embora a informação disponibilizada publicamente pelo ME seja importante, afirma Carlinda Leite (Expresso).
Deixem-me acrescentar que o Ministro da Educação não “gostaria de se pronunciar numa análise prolongada” sobre os rankings porque não são produzidos pelo Ministério (Expresso).
Uma nota final, eu sei que é o mercado a funcionar mas continuo embaraçado com a inserção de publicidade a escolas privadas e ao ensino privado nos suplementos dos jornais dedicados aos rankings.
Um Post Scriptum a propósito de rankings - Gert Biesta da Universidade Stirling numa obra notável, "Good Education in a Age of Measurement - Ethics, Politics, Democracy", afirma que uma obsessão centrada na medida, assenta na gestão continuada de uma dúvida, "medimos o que valorizamos ou valorizamos o que medimos?". Em entrevista ao Público em 2011, o Professor Biesta afirmava sugestivamente, “Os rankings são muito antiquados e não devem ter lugar numa sociedade civilizada".
Bom trabalho.

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