Aí está o produto sazonal que dá
pelo nome de “rankings escolares”.
Apesar de continuar com
dificuldade em defender a sua bondade não tenho uma atitude fundamentalista
face à sua construção, sobretudo considerando a evolução que se tem verificado
nos últimos anos, quer na disponibilização de informação por parte do ME para
além dos “meros” resultados da avaliação externa, quer na forma como essa
informação é tratada e divulgada por diferentes entidades.
E que mostram, ou não, os rankings?
Mostram que genericamente as
escolas privadas apresentam melhores resultados e que também existem escolas
privadas com resultados mais baixos.
Mostram que a maioria das escolas
que maior discrepância apresenta entre a avaliação externa e a avaliação
interna, sendo esta "inflacionada", são privadas sendo algumas
persistentes na tarefa.
Ao contrário, mostram das que se
revelam mais exigentes a maioria é do ensino público.
Mostram que existem escolas
públicas com bons resultados e escolas públicas com resultados menos bons.
Mostram que existem escolas que
face ao contexto sociodemográfico que servem conseguem bons resultados ou, pelo
menos, progresso no trajecto dos alunos e que existem escolas públicas que
ainda não conseguem contrariar o destino de muitos dos seus alunos.
Mostram que o nível de retenção é
elevado e que o recurso à retenção não faz subir os resultados dos alunos.
Mostram que a menor dimensão das
turmas pode em escolas em contextos menos favoráveis promover a melhoria de
resultados.
Mostram que a tradição ainda é o
que era, pais (mães) mais escolarizados, têm, potencialmente, filhos com
melhores resultados.
Mostram que nas escolas com
melhores resultados, em regra, são as que têm menos alunos abrangidos pela Acção
Social Escolar.
Mostram que a escola, os
professores, fazem a diferença.
Mostram ainda que se continua a
falar de “melhores escolas” e “piores escolas” enviesando as várias leituras
possíveis.
Mostram que …
Enfim, os rankings mostram tudo,
só não mostram o que se fará a seguir com a informação que os rankings mostram.
Na verdade, também não mostram o que não se pode medir mas se pode avaliar e
que é tão essencial como o que se mede.
Deixem-me acrescentar que também
mostram que “Estou cansada que só liguem nestas alturas. Os rankings só servem
para sistematizar as escolas. São muito desmotivantes para quem faz um enorme
esforço” Directora da Escola de Santo António no Barreiro (Expresso). E eu sei
que fazem mesmo.
Deixem-me acrescentar que também
mostram que “o nosso trabalho resulta da dimensão de turmas que temos e da
dimensão da escola e também de muito trabalho de tutoria entre alunos e apoio
dos professores” direcção e alunos da escola Básica e Secundária de Arga e Lima
de Viana do Castelo que, no ranking do Expresso (ouvidos na RR), que o mérito decorre
da “interiorização do conceito de partilha e entreajuda entre alunos”, que os
professores trabalham em conjunto e com resultados que realçaram o trabalho da
escola pelas boas razões”, que, “nós não temos medo de falar com os professores
nem temos receio de perguntar ou pedir esclarecimentos depois das aulas”
docentes e alunos da Escola Básica Sebastião da Gama em Estremoz (Público). Que "Não os levamos
ao colo, mas percebemos que podemos dar um carinho e atenção que já não existe
noutras escolas.” Diz uma professora de Matemática da Escola Henrique Sommer da
Maceira, uma das que melhor contraria o destino de muitos alunos, o insucesso e
a exclusão (Público).
Deixem-me acrescentar que também
mostram que há escolas onde andam “os filhos de um deus menor”, Direcção do
Agrupamento de Escolas de Paredes (Expresso).
Deixem-me acrescentar que “os
rankings agravam o fosso entre escolas” embora a informação disponibilizada publicamente
pelo ME seja importante, afirma Carlinda Leite (Expresso).
Deixem-me acrescentar que o
Ministro da Educação não “gostaria de se pronunciar numa análise prolongada” sobre
os rankings porque não são produzidos pelo Ministério (Expresso).
Uma nota final, eu sei que é o
mercado a funcionar mas continuo embaraçado com a inserção de publicidade a
escolas privadas e ao ensino privado nos suplementos dos jornais dedicados aos
rankings.
Um Post Scriptum a propósito de
rankings - Gert Biesta da Universidade Stirling numa obra notável, "Good
Education in a Age of Measurement - Ethics, Politics, Democracy", afirma
que uma obsessão centrada na medida, assenta na gestão continuada de uma
dúvida, "medimos o que valorizamos ou valorizamos o que medimos?". Em
entrevista ao Público em 2011, o Professor Biesta afirmava sugestivamente, “Os
rankings são muito antiquados e não devem ter lugar numa sociedade
civilizada".
Bom trabalho.
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