A presença das crianças das
comunidades ciganas nas escolas públicas nem sempre é algo de pacífico e
tranquilo como seria desejável que acontecesse. Crianças em idade escolar a
frequentar a escola é, deveria ser, obviamente, uma situação normal.
A questão é que os fenómenos de
guetização presentes sobretudo no que toca à comunidade cigana e que são
complexos, produzem com frequência situações como a que agora volta a ser
notícia. É sabido pelos estudos das ciências sociais que as comunidades ciganas
constituem uma das minorias com representação mais negativa em muitos países da
Europa.
A leitura das caixas de
comentários de notícias que envolvam a comunidade cigana é um bom exemplo dessa
representação social ainda que, evidentemente, não tenha valor estatístico.
A notícia de agora refere uma
escola em Famalicão que é frequentada apenas por crianças ciganas. Ao que
parece as famílias não ciganas evitam matricular as crianças nesta escola
ficando assim apenas frequentada pelas crianças da comunidade cigana residente
na zona.
A situação mostra a enorme
dificuldade de contrariar caminhos de exclusão. Não chega a retórica, não chega
a referência exaustiva aos direitos humanos em particular aos direitos das
crianças. Só com estratégias proactivas e reguladas de trabalho global nas
comunidades e nas diferentes dimensões, urbanismo e habitação, emprego e apoios
sociais, saúde e trabalho e, evidentemente, educação é possível promover
mudança.
Nesta matéria pensemos em que
escola ou que escolas devem frequentar as crianças da(s) comunidade(s)
cigana(s)? Como deve ser gerida a sua colocação em turmas? Como a de todas as
crianças criando e apoiando escolas e turmas heterogéneas? Agrupadas por
características étnicas ou de outra natureza, necessidades especiais, por
exemplo?
Estas questões fariam sentido se
numa qualquer cidade da Suíça ou da Bélgica fossem constituídas escolas ou
turmas apenas com filhos de emigrantes portugueses mesmo que os resultados
escolares dos miúdos fossem positivos?
Não creio, posso estar enganado
mas o que para alguns de nós se pode compreender e aceitar com miúdos ciganos,
não seria aceitável com miúdos filhos de emigrantes portugueses num país
estrangeiro.
Na verdade e sem surpresa emerge
uma conflitualidade de interesses em torno destas questões assente em valores,
experiências negativas ou positivas, estereótipos ou preconceitos de natureza e
sinal diferente, dificuldades nas respostas aos problemas, etc.
A pior das soluções parece ser a
definição de uma situação que alimente e prolongue a guetização, isto é, para
crianças de uma comunidade guetizada, uma escola guetizada ou uma turma
guetizada.
Em termos formais, distribuir as
crianças por várias escolas ou por várias turmas parece mais ajustado. A
questão é que não chega.
Como é reconhecido por quem lida
com estas matérias, não basta ter as crianças na escola para que tudo corra
bem. As experiências mostram que as escolas precisam de ter dispositivos e
recursos suficientes e competentes que promovam a presença bem-sucedida destes
miúdos, como, aliás, de todos os outros. Questões desta natureza não afectam
apenas os alunos de etnia cigana, envolvem grupos de crianças como, oura vez
como exemplo, as crianças com necessidades educativas especiais.
Caso contrário, temos o que por
vezes designo por “entregação” (estão entregues) e não integração, com os
problemas conhecidos daí decorrentes ao nível da aprendizagem, comportamento,
absentismo e conflitualidade e reacções negativas de alguns pais e professores,
ainda que com a concordância de outros.
A escola de Famalicão parece ser
um reflexo disto mesmo.
Por outro lado, as próprias
comunidades ciganas devem ser objecto de intervenção e exigências que não pode
ficar na atribuição de uma casa num qualquer bairro social (mais um gueto) e na
atribuição, por vezes desregulada, do Rendimento Social de Inserção.
Temo que nada mude e os problemas
se repitam.
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