Com a chancela da OCDE e com a
opinião de professores, direcções e consultores a avaliação intermédia do
Projecto de Autonomia e Flexibilidade Curricular parece positiva embora aponte
algumas fragilidades.
Antes de mais quero reafirmar que
o Projecto contém aspectos positivos e que como escrevi
torço para que resulte. Por outo lado, também é verdade que em educação os
projectos raramente são avaliados de forma consistente e isenta e já nascem
condenados ao sucesso até ao próximo “projecto inovador”, tentação de todas as
equipas ministeriais. Também estava escrito nas estrelas que este Projecto
seria bem-sucedido.
Pensando sobretudo na sua
potencial generalização, “sugestão” da OCDE e intenção já expresso pela 5 de
Outubro algumas notas.
Parece-me ajustado definir
autonomia e diferenciação (mais do que flexibilidade e bem mais que
flexibilidade curricular) como eixos centrais do trabalho das escolas no
sentido de responder à diversidade de alunos e contextos, única forma de
promover sucesso educativo e inclusão.
Em primeiro lugar a autonomia das
escolas terá de ser real, não assente numa ideia de “municipalização” e deverá
envolver desde logo a possibilidade de diferenciação na organização e
funcionamento das escolas, nos horários, na constituição das turmas ou grupos
de alunos, na gestão curricular e caminha até à sala de aula ao nível das
práticas pedagógicas. Para tal serão necessários os meios e os recursos bem
como os dispositivos de regulação e de avaliação.
No que diz respeito à diferenciação
no contexto onde tudo se decide, a sala de aula, apesar do currículo ser uma
questão crítica a diferenciação está para além da “flexibilização curricular”.
A característica mais evidente de
qualquer sala de aula ou escola é a diversidade. Em muitas conversas que
realizo com pais pergunto aos corajosos que têm mais que um filho se os tratam
da mesma maneira. Nunca alguém me responde que sim e se pergunto porquê,
respondem com um ar óbvio qualquer coisa como “então, eles são diferentes”.
Esta é questão central, com
grupos diversos e escolas diversas a resposta deve, tem que ser, diferenciada
sob pena de não acomodar as diferenças entre os alunos comprometendo a
qualidade, o sucesso e a inclusão.
Todo o sistema educativo e as
políticas educativas devem servir de suporte a esta visão.
Indo um pouco mais longe nas
práticas pedagógicas e como nestas se traduz um princípio de diferenciação umas
notas breves sublinhando que alterar alguns aspectos não tem a ver com
“inovação”, termo cuja utilização frequente me irrita um bocado. A questão
central pode ser alterar e não inovar, são de há muito conhecidas boas práticas que diariamente são mobilizadas em muitas escolas quase sempre com pouca divulgação, até mesmo interna.
Uma primeira nota sobre o
equívoco habitual de que diferenciação é sinónimo de trabalho individual.
Considerando as dificuldades (e o desajustamento) de fazer assentar o trabalho
educativo no trabalho individual, encontra-se assim um suposto “impedimento” à
diferenciação. De facto, diferenciar não é igual a trabalho individualizado,
pelo contrário, implica muito fortemente a aprendizagem cooperada e a
cooperação entre professores. Aliás, verificando-se desejavelmente a
aprendizagem individual por parte de cada aluno a sua construção é social pelo
que mesmo que fosse possível o recorrer exclusivamente ao trabalho individual,
(o que nem com turmas mais pequenas aconteceria) não seria a melhor forma de
trabalhar.
Assim, só o desenvolvimento de
formas diferenciadas de organizar os processos educativos, de gerir a sala de
aula, de avaliar, de gerir a estrutura curricular ela própria com uma concepção
e conteúdos que sejam amigáveis desta diferenciação, de comunicar, de cooperar
com pais e encarregados de educação, etc., poderá permitir responder tão bem
quanto possível à diversidade dos alunos e contextos.
Nesta perspectiva, a organização
e funcionamento de uma sala de aula da forma mais ajustada a recursos e
necessidades contemplar alguma foram de diferenciação em dimensões como:
Planeamento educativo/gestão curricular; Organização do trabalho dos alunos –
as múltiplas formas de organizar o trabalho dos alunos relativamente às situações
de aprendizagem; Clima de aprendizagem – a qualidade e nível de interacção e
relacionamento social entre alunos e entre professor e alunos; Avaliação – os
processos relativos à avaliação e regulação do processo de ensino e
aprendizagem (sem surpresa, uma das dificuldades expressas na avaliação
intermédia); Actividades / Tarefas de aprendizagem – a escolha das diferentes
tarefas ou situações de aprendizagem a propor aos alunos e Materiais e Recursos
– a definição, utilização e gestão dos materiais e recursos que funcionarão
como suporte ao processo de ensino/aprendizagem.
Como nota final sublinhar o que
tantas vezes afirmo, um dos factores individuais mais contributivos para a
qualidade dos processos educativos e dos processos de mudança em educação é a
presença e valorização de um professor empenhado e qualificado.
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