sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

EDUCAÇÃO E EMOÇÃO

A propósito da realização das jornadas internacionais do Pensamento Emocional em Lisboa o Público faz referência ao trabalho desenvolvido em várias escolas no âmbito da gestão das emoções e do seu papel nos processos educativos, quer no comportamento quer nas aprendizagens.
É uma questão importante que me deixa a pensar.
As alterações nos estilos de vida, nos valores sociais, culturais, económicos, etc., nos modelos de desenvolvimento económico e consequente visão política e as suas consequências nas políticas educativas parecem ter criado um tempo em que emerge a necessidade de “trabalhar” as emoções nos contextos educativos. Os climas sociais e de aprendizagem em diferentes escolas e salas de aula são pouco amigáveis para alunos mas também para professores, veja-se a referência de ontem na imprensa ao trabalho em desenvolvimento pela FCSH sobre as condições emocionais do trabalho dos docentes.
Talvez tenhamos que reflectir sobre isto e retomar coisas velhas, nada “inovadoras”, nada "revolucionárias", nenhum “novo paradigma”, a educação escolar é estruturada e alimentada pela relação e a relação, para que exista e seja positiva, tem como ingrediente … a emoção. Nas minhas conversas por aí sobre estas coisas da educação desafio muitas vezes pais ou professores a recordarem muito brevemente professores de quem guardam boas memórias. Quando lhes pergunto porquê, as justificações remetem muito significativamente para a relação que com eles tiveram, para além do que com eles aprenderam das “coisas da escola”.
Como dizia em cima, a educação escolar, a acção do professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação que se operacionaliza na comunicação. Também por isso são também preocupantes os tempos que vivemos em que os professores têm pouco tempo para comunicar, para conversar com os alunos e as emoções entram em turbulência e descontrolo. A pressão para os resultados, a extensão dos conteúdos curriculares, o número de alunos por turma, por exemplo, dificultam essa relação. O professor “fala com o programa”, a maioria dos alunos entende, outros não e como esses é preciso falar mas … para os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo para conversar, para “cativar”, como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que os professores, tanto ou mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são. Quando nos lembramos com ternura e admiração de alguns professores é pelo que eles eram e nem sempre pelo que nos ensinaram apesar da importância que tenha tido.
A este propósito uma pequena história. Há uns tempos, num trabalho com professores numa cidade do interior, uma Professora, das grandes, contava que tinha uma experiência muito interessante com uma turma CEF, as dos "alunos de segunda" como muitas vezes são vistas. A professora comentava com os miúdos como estava satisfeita com as mudanças positivas que eles apresentavam e perguntava a que se deviam.
Um dos miúdos, o "chefe", respondeu "sabe, boceses gostam da gente e a gente gosta de boceses". Quando nos contou isto a professora não escondeu uma lágrima.
O Mestre João dos Santos quando afirmava que alguém tinha sido seu professor justificava, "porque foi meu amigo".
São assim os professores que nos marcaram. Pela positiva, evidentemente.
Não “inovemos” tanto, não queiramos “novos paradigmas”, não "mudemos" tudo pela ilusão mágica da mudança.
Criemos, apenas, o modo para que nas salas de aula os professores e os alunos tenham o tempo e a circunstância que lhes permita comunicar, entre si, com a razão e com a emoção. Irão aprender e serão gente de bem.

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