A propósito da realização das jornadas
internacionais do Pensamento Emocional em Lisboa o Público faz referência ao
trabalho desenvolvido em várias escolas no âmbito da gestão das emoções e do
seu papel nos processos educativos, quer no comportamento quer nas aprendizagens.
É uma questão importante que me
deixa a pensar.
As alterações nos estilos de
vida, nos valores sociais, culturais, económicos, etc., nos modelos de
desenvolvimento económico e consequente visão política e as suas consequências
nas políticas educativas parecem ter criado um tempo em que emerge a
necessidade de “trabalhar” as emoções nos contextos educativos. Os climas sociais
e de aprendizagem em diferentes escolas e salas de aula são pouco amigáveis
para alunos mas também para professores, veja-se a referência de ontem na
imprensa ao trabalho em desenvolvimento pela FCSH sobre as condições emocionais
do trabalho dos docentes.
Talvez tenhamos que reflectir sobre
isto e retomar coisas velhas, nada “inovadoras”, nada "revolucionárias", nenhum “novo
paradigma”, a educação escolar é estruturada e alimentada pela relação e a
relação, para que exista e seja positiva, tem como ingrediente … a emoção. Nas
minhas conversas por aí sobre estas coisas da educação desafio muitas vezes
pais ou professores a recordarem muito brevemente professores de quem guardam
boas memórias. Quando lhes pergunto porquê, as justificações remetem muito
significativamente para a relação que com eles tiveram, para além do que com
eles aprenderam das “coisas da escola”.
Como dizia em cima, a educação
escolar, a acção do professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação
que se operacionaliza na comunicação. Também por isso são também preocupantes
os tempos que vivemos em que os professores têm pouco tempo para comunicar,
para conversar com os alunos e as emoções entram em turbulência e descontrolo. A
pressão para os resultados, a extensão dos conteúdos curriculares, o número de
alunos por turma, por exemplo, dificultam essa relação. O professor “fala com o
programa”, a maioria dos alunos entende, outros não e como esses é preciso
falar mas … para os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo para conversar,
para “cativar”, como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que
os professores, tanto ou mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são.
Quando nos lembramos com ternura e admiração de alguns professores é pelo que
eles eram e nem sempre pelo que nos ensinaram apesar da importância que tenha
tido.
A este propósito uma pequena
história. Há uns tempos, num trabalho com professores numa cidade do interior,
uma Professora, das grandes, contava que tinha uma experiência muito
interessante com uma turma CEF, as dos "alunos de segunda" como
muitas vezes são vistas. A professora comentava com os miúdos como estava
satisfeita com as mudanças positivas que eles apresentavam e perguntava a que
se deviam.
Um dos miúdos, o
"chefe", respondeu "sabe, boceses gostam da gente e a gente
gosta de boceses". Quando nos contou isto a professora não escondeu uma
lágrima.
O Mestre João dos Santos quando
afirmava que alguém tinha sido seu professor justificava, "porque foi meu
amigo".
São assim os professores que nos
marcaram. Pela positiva, evidentemente.
Não “inovemos” tanto, não queiramos
“novos paradigmas”, não "mudemos" tudo pela ilusão mágica da mudança.
Criemos, apenas, o modo
para que nas salas de aula os professores e os alunos tenham o tempo e a circunstância
que lhes permita comunicar, entre si, com a razão e com a emoção. Irão aprender e serão gente de bem.
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