A minha avó Leonor usava com
muita frequência o termo desconsolo para caracterizar qualquer situação ou
facto que considerasse menos positivo, "está um frio que é um
desconsolo", "não faças isso, é um desconsolo", "são
pessoas infelizes, é um desconsolo". Se ela estivesse connosco agora muito
mais desconsolo haveria de encontrar. Os tempos são tempos de desconsolo.
Stig Dagerman acha que a
"nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer". Se se
entender como ele que "só existe uma consolação verdadeiramente real: a
que me diz que sou um homem livre, ser inviolável, soberano dentro dos seus
limites", então estaremos condenados ao desconsolo, um homem livre,
inviolável, soberano, parece do domínio da utopia e os tempos são os da
absurdidade de que fala António Vieira.
No entanto, sou um tipo
moderadamente optimista, quando olho para miúdos pequenos que estão a aprender
a ser gente, os meus etos por exemplo, gosto de acreditar que não estarão condenados ao desconsolo. Talvez
possamos ser menos exigentes que Dagerman no seu angustiado opúsculo, talvez
possamos encontrar consolo, algum consolo.
Do meu ponto de vista a dignidade
e o afecto são fontes fundamentais de consolo e acho que para muitos de nós a
dignidade e o afecto serão alcançáveis, devendo mesmo ser exigidos.
É, se não deixarmos que nos
roubem a dignidade e se encontrarmos o Outro a nossa necessidade de consolo é
possível de ser cumprida, quase.
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