Com regularidade são realizados e
divulgados estudos explorando as relações entre algumas variáveis e a qualidade
da educação e dos resultados escolares.
Os resultados desses estudos
tendem a ser divulgados como explicativos, causa-efeito, e servem,
curiosamente, para apoiar teses de sentido, por vezes, bem diferentes.
Na maioria das vezes dada a
multiplicidade de variáveis em jogo, da complexidade dos contextos educativos e
das suas especificidades a análise dos resultados é curta e deixa de fora variáveis
relativas a processos.
Vem esta introdução a propósito
de nova chamada de atenção para que a ideia de que ““não se verifica qualquer relação entre o número médio de alunos por
turma e os resultados obtidos no PISA”. Dois exemplos: a Holanda, com turmas
médias de cerca de 25 alunos, obteve 523 pontos nestes testes em 2012, enquanto
o Luxemburgo, que tinha turmas de 21 alunos, se ficou pelos 490. Esta afirmação,
citada do Público, decorre do estudo “O que faz uma boa escola”, do projecto
aQeduto da responsabilidade da Fundação Francisco Manuel dos Santos e do
Conselho Nacional de Educação.
Não insistam, por favor neste
tipo de conclusões. O próprio CNE num estudo recente veio afirmar que a dimensão
da turma tem um impacto fortíssimo na forma como decorrem as aulas, no aumento
dos episódios de indisciplina, no tempo destinado pelos professores ao ensino e
não ao controlo dos alunos, na disponibilidade para o uso de estratégias de
ensino mais diferenciado.
Será crível que estes efeitos não
se repercutam mos resultados escolares?
Sabemos que sim e insiste-se na
conclusão simples e “útil” a algumas agendas de que com base nos PISA ” não se
verifica qualquer relação entre o número médio de alunos por turma e os
resultados obtidos”.
O estudo também sublinha a forte relação
entre a origem social e cultural e os resultados dos alunos e de como nem
sempre a escola é capaz de fazer a diferença e contrariar os resultados
esperados. Então o efectivo de turma também é irrelevante?
E que dizer de políticas educativas
que promovam, ou não, a qualificação, a motivação e a valorização a diferentes
níveis do trabalho dos professores?
E que dizer de políticas
educativas que envolvem aspectos como conteúdos e organização curricular,
diferenciação de percursos, de oferta educativa e de práticas, modelo de
organização das escolas, recursos humanos adequados ao nível de docentes,
técnicos e funcionários, tipologia e efectivo de escolas e turmas, autonomia
real das escolas?
Nada disto mexe com os resultados
dos alunos?
Sim, todos os estudos são
necessários e úteis, muito úteis
No entanto creio que a forma como
são tratados e divulgados os seus resultados merece prudência, análise cruzada
e contextualizada.
Os territórios educativos têm
características próprias, os processos educativos são complexos e não podem ser
vistos só os resultados.
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