O número de alunos por turma tem
estado na agenda por via das propostas apresentadas na Assembleia da República,
pela intenção expressa pelo Governo e pela publicação do Estudo do CNE “Organização Escolar: As Turmas”.
Uma das dimensões mais associadas
ao número de alunos por turma, hoje é a implicação no tempo gasto pelos
professores no controlo da turma, dos comportamentos dos alunos.
A relação sugere que quanto maior
é a turma mais tempo é gasto na gestão dos seus comportamento e, da mesma
forma, quanto menor é a turma mais tempo o professor usa em actividades
directamente ligadas ao ensino e aprendizagem.
O Estudo o CNE e outros trabalhos
internacionais mostram que Portugal e um dos países em que os professores mais
tempo gastam em trabalho de controlo de comportamentos dos alunos. É
reconhecido também que turmas de maior dimensão registam mais episódios de
indisciplinas.
Esta evidência não pode deixar de
ser tida em conta na discussão aberta sobre o número de alunos por turma.
No entanto, creio que existe um
outro conjunto de aspectos que me parecem fortemente associados à qualidade da
educação e dos resultados escolares para além do número de alunos e que não
devem ser esquecidos nesta equação. Sem esgotar ou hierarquizar, vejamo alguns desses aspectos.
Como várias vezes aqui tenho
referido e o Estudo do CNE também aponta, parece-me que a autonomia das escolas
deve ser reforçada também no que respeita à organização dos alunos de forma a
acomodar as especificidades dos territórios educativos. Para além disso,
existência de recursos técnicos em número e com a qualificação adequada é
importante.
Creio também que a questão dos
comportamentos dos alunos em sala de aula não pode ser desligada da organização
e conteúdos curriculares. Se recordarmos o trabalho recentemente divulgado Health Behaviour in School-aged Children
temos que os alunos portugueses expressam uma apreciação negativa da escola,
das mais baixas entre os 42 países participantes, apenas 11% dos rapazes e 14%
das raparigas aos 15 anos afirma gostar da bastante da escola, resultado mais
baixo que em edições anteriores. Ainda de acordo com o estudo os alunos
portugueses gostam dos colegas e dos intervalos e não gostam das aulas porque
as consideram aborrecidas e com matéria excessiva.
Temos currículos extensos,
normativos, associados a um conjunto insustentável e burocratizado de metas
curriculares que tornam muito difícil aos docentes acomodar a diversidade dos
alunos e, como estes dizem, reflectem-se na motivação. Como sabemos a baixa
motivação é um factor fortemente contributivo para comportamentos desajustados
em sala de aula.
Parece-me também de considerar o
impacto da alteração do quadro de valores, por exemplo a percepção social dos
designados traços de autoridade. Dito de outra maneira, o facto de ser velho,
polícia, professor ou médico, já não basta, só por si, para inibir
comportamentos de desrespeito pelo que importa perceber o impacto destas
alterações nas relações entre professores e alunos.
Daqui decorre, por exemplo, que
restaurar a autoridade dos professores, tal como era percebida há décadas, é
uma impossibilidade porque os tempos mudaram e não voltam para trás. Pela mesma
razão, não se fala em restaurar a relação pais – filhos nos termos em que se
processava antigamente e falar da "responsabilização" dos pais é
interessante, mas é outro nada.
Um professor ganha tanta mais
autoridade quanto mais competente, apoiado e valorizado se sentir. O apoio aos
professores é um problema central no que respeita à indisciplina mas não só.
Neste âmbito, apoio e valorização
dos professores está muito por fazer.
É também importante reajustar a
formação de professores. As escolas de formação de professores não podem
“ensinar” só o que sabem ensinar, mas o que é necessário ser aprendido pelos
novos professores e pelos professores em serviço. Problemas "novos"
carecem também de abordagens "novas".
Parece também importante a
existência de estruturas de mediação entre a escola e a família o que implica a
existência de recursos humanos qualificados e disponíveis. Veja-se o trabalho
dos GAAFs apoiados pelo IAC, experiências no âmbito da intervenção da
Associação EPIS ou iniciativas que algumas escolas conseguem desenvolver e que
permitam apoiar os pais dos miúdos maus que querem ter miúdos bons e
identificar as situações para as quais, a comprovada negligência dos pais
exigirá outras medidas que envolvam, eficazmente e em tempo oportuno as CPCJ.
Por outro lado, os estudos e as
boas práticas mostram que a presença simultânea de dois professores é um
excelente contributo para o sucesso na aprendizagem e para a minimização de
problemas de comportamento bem como se conhece o efeito do apoio precoce às
dificuldades dos alunos.
As dificuldades dos alunos estão
com muita frequência na base do absentismo e da indisciplina, os alunos com
sucesso, em princípio, não faltam e não apresentam grandes problemas de
indisciplina.
Os professores também sabem que
na maior parte das vezes, os alunos indisciplinados não mudam os seus
comportamentos por mais suspensões que sofram. É evidente que importa admitir
sanções, no entanto, fazer assentar o combate à indisciplina nos castigos aos
alunos e, eventualmente, nas multas e retirada de apoios aos pais, é ineficaz,
é facilitista na medida em que é a medida mais fácil e mais barata, é
demagógica porque vai ao encontro dos discursos populistas que aplaudem a ideia
do "prender" do "expulsar" até ficarem só os nossos filhos.
O problema é quando também nos
toca a nós, aí clamamos por apoios.
Os discursos demagógicos e
populistas, ainda que bem-intencionados, não são um bom serviço à minimização
dos muito frequentes incidentes de indisciplina que minam a qualidade cívica da
nossa vida além, naturalmente, da qualidade e sucesso do trabalho educativo de
alunos, professores e pais.
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