O ME anunciou a intenção de
promover maior autonomia das escolas em matéria de flexibilização curricular.
Depois de definido um “conteúdo
curricular nuclear”, o “core curriculum” na literatura em inglês sobre estas
matérias, e um "referencial de saída" para os alunos, as escolas, os professores, terão autonomia para
gerirem os conteúdos curriculares de forma flexível.
A confirmar-se parece um caminho
positivo. Em primeiro lugar porque a autonomia em matéria de currículo é uma ferramenta
imprescindível para acomodar e responder a especificidades de contexto. Em
segundo lugar, porque a diferenciação curricular, termo que prefiro a flexibilização,
é também imprescindível para que dentro da sala de aula se possa responder à
diversidade entre os alunos. A diferenciação curricular é
essencial no sentido promover educação inclusiva e com qualidade.
A construção de um currículo em
torno de conteúdos nucleares torna a gestão curricular mais aberta e mais capaz
de responder às diferenças individuais entre os alunos e mesmo a casos de
necessidades educativas especiais. Aliás, a definição recente de currículos
fechados, prescritivos e extensos tem sido, justamente, um sério obstáculo à
educação inclusiva obrigando à proliferação de opções curriculares “alternativas”
que mais não são em muitos casos que “guetos curriculares” facilitadores de
exclusão.
No entanto, o Secretário de
Estado da Educação, João Costa, afirmou que este caminho se pode desenvolver sem “mexer” na estrutura
das metas curriculares. Percebo a prudência e a intenção de minimizar a constante mudança e instabilidade mas creio que é difícil.
A forma como as metas estão definidas e a manterem-se parece-me
conceptualmente contraditório com o modelo de currículo e gestão curricular que
se quer operacionalizar e, das duas uma, ou se “esquecem”, em todo ou na parte
que se entender, ou estão válidas e devem ser observadas pois não definem, da
forma que estão desenhadas, nenhum conteúdo nuclear o que dificultará intenção
de “diferenciar”.
Creio também que caminhar no
sentido da diferenciação curricular, o que saúdo, implica, do meu ponto de
vista, um ajustamento na construção e utilização dos manuais escolares que
estão “pensados” e são “usados” de forma coerente com o modelo de currículo que
têm servido.
A autonomia das escolas e dos
professores em matéria curricular não é compatível com uma “manualização”
excessiva do trabalho de professores e alunos como actualmente se verifica em
muitas salas de aula.
A ver vamos como será colocado em
prática mas, repito, parece-me um passo no sentido adequado.
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