Um estudo do Centro de
Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa, “Os afro-descendentes no sistema educativo português” mostra que os alunos com
famílias oriundas dos PALOP apresentam taxas de reprovação muito acima das já
demasiado altas dos alunos de famílias portuguesas, no 1.º ciclo são de 16% e
dos portugueses de 5%; no 2.º ciclo são de 28% face a 11%; no 3.º ciclo de 32% face
a 15% e no secundário de 50% face a 20%. São também maioritariamente encaminhados
para ensino profissional, 80%, o dobro dos alunos de famílias portuguesas no
ensino secundário, sendo que os que seguem os cursos gerais também apresentam uma taxa
de reprovação bem acima.
Sabemos, foram divulgados estudos
recentes pelo CNE, da forte associação entre os resultados escolares e as
características sociodemográficas das famílias, designadamente, níveis de
escolaridade dos pais e estatuto económico.
Se acrescentarmos os fenómenos de
guetização urbanística, social, económica e cultural inerentes a grupos
minoritários as questões ficam ainda mais complexas e a necessitar de
abordagens para além do universo da educação.
No entanto, também sabemos que a
escola faz, pode fazer a diferença, ou seja, o trabalho na e da escola e dos
professores é um factor significativamente contributivo para o sucesso dos
alunos mais vulneráveis e capaz de contrariar o peso das outras variáveis que
estão presentes nesses alunos. O DN relata a experiência interessante da Escola Secundária Dr. Azevedo Neves em Cascais com uma população escolar com muitos
alunos com famílias oriundas dos PALOP.
Quando abordo estas questões cito
com frequência uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children,
"O factor individual mais
contributivo para a qualidade da educação é a existência de um professor
qualificado e empenhado".
No entanto a existência de
professores qualificados e empenhados não depende só de variáveis individuais
de cada docente, decorre também de um conjunto de políticas educativas que
promovam a qualificação, a motivação e a valorização a diferentes níveis do
trabalho dos professores.
Depende de políticas educativas
que contemplem aspectos como conteúdos e organização curricular, diferenciação
de percursos, de oferta educativa e de práticas, modelo de organização das
escolas, recursos humanos adequados ao nível de docentes, técnicos e
funcionários, tipologia e efectivo de escolas e turmas, autonomia real das
escolas, apenas para citar alguns exemplos de como a diferença tem que ser
construída também antes de chegar à sala de aula.
Como referi acima, importa ainda
que no âmbito mais alargado das políticas sociais se combata a exclusão e a pobreza,
se promova a qualificação das gerações adultas, políticas urbanísticas locais
que minimizem a guetização das comunidades, etc.
No entanto, como afirmava
Mandela, a educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo. Não há volta a
dar.
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