O texto de de Paulo Guinote no Público merece leitura atenta no sentido de se construir uma visão global sobre as políticas educativas dos últimos anos.
Ao começar a ler recordei que em tempos aqui tinha deixado um texto em que também usei em título a ideia de "low cost", "Educação low cost". O texto é de 15 de Janeiro de 2015, Pode ser um exercício curioso perceber o que muda, mudou ou está a mudar na educação em Portugal. Aqui fica tal e qual e em complemento do texto do Paulo Guinote.
"O
terreno continua a ser preparado para sustentar os cortes nas dotações
orçamentais para a educação.
Agora
trata-se do Banco de Portugal que num estudo, mais um, vem sustentar que,
apesar da evolução dos resultados dos estudantes portugueses no PISA de 2009,
estes resultados não são ainda compatíveis com a despesa na educação pelo que,
tinha de ser, existe "margem para redução da despesa e ganhos adicionais
ao nível da eficiência”.
Os
autores sustentam a conclusão pelo facto de ao comparar os indicadores
portugueses com os dos países europeus que obtiveram as melhores médias de
resultados em matemática, leitura e ciências,
Estónia, Finlândia e Holanda, Portugal apresentou uma despesa superior
em educação à destes países em 2009, e ainda assim, “resultados mais
desfavoráveis que a média da área euro”, sublinham em abono das suas teses.
Dada
a natureza deste espaço, duas ou três notas breves.
De
há muito que se reconhece que o estudo nem a promoção da qualidade na educação
não pode, não deve, assentar exclusivamente numa lógica de
"input-output", ou seja, quanto é que se gasta, qual é o resultado. A
qualidade dos processos educativos depende de um conjunto extremamente complexo
de variáveis e processos que devem ser obrigatoriamente considerados, alguns
dos quais, curiosamente o estudo aborda.
Um
primeiro aspecto remete para o ponto de partida, ou seja, comparar os
resultados dos alunos em 2009 com gastos nos sistemas em 2009 esquece a
história anterior e o patamar de partida dos alunos e a evolução dos
sistemas que servem de comparação, dito
de outra maneira, manter um sistema razoavelmente eficaz a funcionar é,
naturalmente, mais económico que estruturar um sistema pouco eficaz que há
poucos anos apresentava níveis de insucesso absolutamente devastadores. Aliás,
o próprio MEC entende que na avaliação das escolas deve ser ponderado o seu
nível de progresso e não só a comparação com outras escolas.
O
estudo retoma também um tema velho, o ratio professor/aluno, expressando que é
baixo e que encarece o sistema pelo que ... talvez se possam cortar
professores, o FMI estima em 50 000, coisa pouca. Talvez fosse interessante
considerar as contas de 2012 e verificar os actuais ratios. Do meu ponto de
vista, mais uma vez é curto ver a questão em termos de quantos professores,
quantos alunos e ... é só fazer as contas. O sistema português tem modelos de
organização dos agrupamentos e das escolas que exigem e absorvem muitas horas
de professores em trabalho não docente, tarefas burocráticas, desarticuladas e
com pouca eficácia. Entendo que aqui poderemos, na verdade, optimizar recursos,
não para dispensar professores e cortar despesa, simplesmente, mas para
aumentar a qualidade do trabalho.
A
PEC - Política Educativa em Curso, numa espécie de política contabilística,
assenta nesta lógica, corta nos inputs, meios humanos e económicos, e espera
que subam os outputs, os resultados alterando pouco e mal os processos e as
outras variáveis.
Como
muitas vezes afirmo é fundamental intervir nos processos mas numa base
promotora da qualidade e não numa lógica simples de cortar despesa. Os
mega-agrupamentos, as turmas com 30 alunos, uma reforma curricular feita
assente em euros e não em ajustamentos significativos da extensão e conteúdos,
a insuficiente trajectória de promoção da autonomia e responsabilização das
escolas por processos e recursos, a inexistência de apoios às dificuldades de
alunos e professores, por exemplo, são fortes condicionantes à qualidade dos
resultados.
O
nosso sistema é ainda, os resultados dos rankings sazonais, mostram-no e o
Estudo do Banco de Portugal também, profundamente assimétrico e com
desigualdades gritantes em termos de contextos sociogeográficos de
funcionamento das escolas. Estas assimetrias, não sendo acauteladas, por
discriminação positiva, autoalimentam-se e eternizam-se, servindo de base às
desigualdades sociais.
A
cultura instalada exclusivamente orientada para resultados, omitindo
intencionalmente, por negligência ou por incompetência a importância dos
processos e as variáveis complexas que os envolvem, produzirá políticas que
sendo mais baratas no imediato, podem, a prazo, sair caras, levando-nos a
piores resultados mas então já a gastar menos. É uma opção."
Na verdade, a educação é uma das áreas em que o "low cost" não será de todo a melhor opção.
Em educação não existe despesa, existe investimento.
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