O Governo colocou em discussão um
projecto de decreto-lei no sentido de que em todas as entidades “públicas e
privadas, singulares e colectivas que prestem atendimento presencial ao
público” as pessoas com deficiência, grávidas, com crianças pequenas e idosos passam a ter direito, agora
em forma de lei, a atendimento prioritário.
Idealmente uma sociedade
desenvolvida, eticamente saudável e atenta a todos os seus elementos e às suas
necessidades não deveria precisar de leis desta natureza. No entanto, de há muito
que aprendi que a realidade não é a projecção dos meus desejos apesar de muitos
discursos de lideranças políticas definirem o que é a realidade por maior que
seja a diferença entre o que dizem e o que vemos e sentimos.
Esta matéria recordou-me um
episódio passado num no qual participei realizado numa cidade alentejana e
dedicado às questões da inclusão, em particular das pessoas com deficiência.
Uma das pessoas presentes, que se
desloca em cadeira de rodas, contou uma história interessante e elucidativa.
Ao deslocar-se de automóvel para
uma zona comercial da cidade onde vive e quando se preparava para estacionar no
espaço reservado a pessoas com deficiência, estava a estacionar um cidadão sem
deficiência a quem o nosso amigo chamou a atenção para a sua condição e para o
facto de aquele ser um espaço reservado.
Sintetizando a história, acabou
por ouvir do "cidadão" que "tinha sorte em ser deficiente porque
se o não fosse as coisas não ficavam assim". Esclarecedor.
O meu amigo, homem que entende
não dever resignar-se procurou um agente da autoridade para apresentar queixa
da ameaça e da infracção.
O agente da autoridade aconselhou
o nosso amigo a não se "chatear" só por causa de um lugar de
estacionamento. O nosso amigo não aceitou o conselho e continuou a reclamar os
seus direitos. Acontece que é brasileiro e o agente da autoridade acabou por
achar que ele devia era estar no país dele em vez de andar por aqui a chatear
cada um.
Creio que é dispensável comentar
quer a atitude do "cidadão", quer a atitude e comportamento do
"agente da autoridade".
Por este tipo de coisas e a
regularidade com que acontecem, o nosso amigo que usa a cadeira de rodas dizia
que mais do que o "peso" da cadeira de rodas é difícil suportar as
dificuldades criadas pelas atitudes e valores de muitas pessoas.
É só um exemplo do muito que está
por fazer.
Assim sendo, que se protejam
legalmente os direitos das pessoas bem como se regulamentem os deveres. Pode
ser que mudem os comportamentos.
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