É sempre com forte inquietação
que tomo conhecimento de episódios de vandalismo dirigidos a escolas. Agora,
pela quarta vez em mês e meio, aconteceu à Escola Secundária da Ramada.
Qualquer tipo de comportamento
desta natureza é sempre lamentável, acontecer com escolas é particularmente
preocupante.
Nada do que a seguir escrevo
pretende branquear ou minimizar este gesto delinquente que, como tal, deve ser
punido e, tanto quanto possível prevenido. Do meu ponto de vista esta prevenção
não passa só por um reclamado aumento da vigilância sobre as instalações.
No que li na imprensa não sei se
os autores são, ou foram, alunos desta escola mas é frequente que assim seja.
Se bem se recordam dados recentes
do Estudo Health Behaviour in School-aged Children, da responsabilidade da OMS
mostraram a apreciação puco positiva que os adolescentes fazem da escola.
Muitos dos autores envolvidos em
actos de vandalismo contra escolas são actuais alunos ou ex-alunos dessas
escolas mas quase sempre com trajectórias de insucesso e abandono A escola é,
por assim dizer, a face do seu fracasso.
Não que este fracasso seja culpa
da escola. O insucesso educativo envolve, evidentemente, a escola mas também a
qualidade das políticas educativas em múltiplas dimensões, os recursos
disponíveis, as políticas sociais, as famílias que por negligência, impotência
ou incompetência também falham no seu papel, etc., etc.
Por princípio, ninguém mentalmente
e educativamente saudável, por assim dizer, vandaliza a sua casa ou um espaço
percebido como seu. Como diz Caetano Veloso, “quando a gente gosta, a gente
cuida”. A questão é muitos alunos não percebem, não sentem a escola como sua e,
como disse, é o espelho de tudo o que não são.
Temos que caminhar neste sentido, reconstruir a relação de alguns alunos com a escola.
Como escrevia há algum tempo, seria
muito interessante, mas não passa, provavelmente, de um romantismo não
compatível com a dureza crispada, agressiva e feia, dos tempos e da vida
actual, imaginar que a generalidade dos miúdos e adolescentes quisessem fugir
para a escola, não porque fugissem de algo mau, o contexto familiar, por
exemplo, e que em bom rigor e lamentavelmente é por vezes tão mau que obriga a
fugir, mas porque os miúdos quisessem correr para a escola por nela se sentirem
bem e não apenas nos intervalos e com os amigos.
Para isso, tem que caber na
escola mais do que currículos fechados, extensos, normativos apenas
direccionados para os saberes estruturantes que se revela incapaz de acomodar a
diversidade dos alunos. Temos que ser capazes de introduzir diferenciação de
trajectos e de ofertas não de natureza discriminatória, dirigida a “bons” ou
dirigida a “maus” mas apenas que pela sua diferença possa atrair e ser adequada
a … alunos diferentes.
Como também escrevi, nos tempos
que correm também muitos professores, bons professores, mostram por cansaço ou
desesperança que já não fogem para a escola, um lugar de realização, de
trabalho duro mas com uma das maiores compensações que se pode ter, ajudar
gente pequena a ser gente grande.
O clima institucional, a
burocracia, a deriva política foram, vão, levando a que a escola não apeteça.
Felizmente, muitos outros professores ainda conseguem fugir para escola, os
alunos desses professores são gente com sorte.
Se não conseguirmos caminhar
noutro sentido os episódios de vandalismo em escolas, de indisciplina e a delinquência infanto-juvenil
dificilmente serão revertidas. Mesmo com aumento de vigilância e de
dispositivos legais ou processuais de punição.
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