terça-feira, 19 de julho de 2011

ENTRE O "DRESSING CODE" E O "THINKING CODE"

Para fugir um pouco à circularidade das notícias sobre a crise, umas notas sobre a "recomendação" do Conselho Académico da Universidade Católica sobre o vestuário a adoptar no campus universitário.
Como é habitual, a tentativa de regulação de aspectos desta natureza desencadeia polémica e entendimentos diversos.
As opiniões nesta matéria são sempre de grande elasticidade, variando entre os que defendem a “farda” até aos que sustentam que regular a apresentação é um atentado aos direitos individuais. Já não tenho muita paciência para certo tipo de discussões.
Peço desculpa, mas esquece-se algo que me parece essencial. A adolescência e juventude é um tempo de construção de identidade. Tal “trabalho” passa, em todas as épocas (lembremo-nos da recusa da gravata nos anos 50, das minissaias dos anos 60, dos cabelos às cores dos anos 80, dos piercings a seguir, etc.), pela tentação de andar nos limites do instituído, linguagem, vestuário, “aspecto visual”, música, consumos, etc. Este tipo de funcionamento, quase sempre transitório, presente, de forma mais ou menos evidente, na generalidade dos adolescentes e jovens levanta algumas inquietações, naturais, aos mais velhos que, à falta de melhor solução, têm a tentação de proibir, o que se compreende. Também me lembro de me terem proibido socas, a camisa por fora das calças e cabelo comprido. Mas só proibir é tapar o Sol com a peneira. Claro que, sobretudo com gente mais nova, muitos pais ficam contentes com o facto de a escola proibir algo que eles gostavam de proibir mas que não se sentem capazes, assim a escola compra, por eles, a “briga” com os filhos.
Por outro lado, é fundamental que os próprios adolescentes e jovens percebam com clareza que “não vale tudo”, ideia que por vezes pode decorrer de retórica como, são direitos individuais, veste-se, fala-se e faz-se o que se quer, é um caso de liberdades individuais, etc. Devo dizer que parte deste argumentário cai no que considero uma espécie de delinquência educativa. A vida em sociedade e o respeito por regras sociais obriga a que ninguém de nós possa fazer sempre o que quer, quando quer, onde quer, da forma que quer, etc. Construir de forma sensata estas balizas reguladoras é uma tarefa indispensável ao desenvolvimento e à formação, daí perceber a decisão da Universidade Católica. A minha experiência no contacto com jovens do ensino superior mostra que ao longo do curso e com o aproximar dos contextos profissionais esse lado mais "alternativo" se aquieta. Às vezes lamentavelmente, caindo-se na normalização cinzenta em que corpo e "cabeça" vestem farda, ficam todos iguais.
O que quero simplesmente dizer é que, muito para lá das proibições, ou em vez das proibições, trata-se de construir valores, capacidade de auto-regulação dos comportamentos por parte dos jovens, de construção conjunta dos necessários códigos de conduta e de sermos capazes de discriminar o essencial do acessório.

4 comentários:

Anónimo disse...

Acho que tem toda a razão mas só vai para Católica quem quer, ou quem pode.

Abraço
António Caroço

Nuno Faria disse...

Concordo com quem diz que só anda na Católica quem quer e pode pagar... quem prefere mais liberdade e uma educação diferente pode sempre mudar para outra universidade. Yale, Cambridge, Oxford, Princeton, etc... as mais bem consideradas universidades do mundo têm um Uniforme obrigatório, algumas para todos os dias, outras só para as festas mas ainda assim, nenhuma autoriza alunos em calções nas aulas! Aqui temos a mania da liberdade... mas como em tudo, há sempre quem abusa...

Acho muito bem que a UCP imponha um código mínimo de vestuário! Se é suposto a universidade nos preparar para a vida profissional, deve também passar a ideia de que não se pode aparecer no emprego em calções e chanatos, a não ser que se trabalhe em casa!

Jota Pê disse...

Bom, um tudo-nada em contraciclo com o 'comentador' anterior ocorre-me aqui recordar (isto se o Zé não se importar, bem se vê) uma frase que repetidamente fui ouvindo ao meu Avô, sempre dita com a humildade que caracterizava a sua imensa sabedoria - de sapateiro: PELAS OBRAS E NÃO PELO VESTIDO É O HOMEM CONHECIDO. Mas pronto, passe a subtileza irónica da expressão, não liguem muito à coisa que isto sou eu a falar, que sou daqueles que vestem fatos que parecem sempre ter sido feitos para outro. Sorriso.

Dylan disse...

O Conselho Académico da Universidade Católica recomendou que a sua comunidade adoptasse "formas de vestuário dignas e convenientes" e que se "chamasse a atenção dos que se apresentassem de maneira imprópria". Apesar dos seus estatutos não implicarem o uso de farda, suponho que, para quem não cumpra a directriz, seja infligido um qualquer tipo de castigo corporal ao melhor estilo pidesco, revisitando-se o Estado Novo, sempre tão castrador de razões democráticas e da liberdade de expressão individual. Para um estabelecimento de ensino que advoga ter "uma visão cristã do homem", tal e qual a Igreja que o suporta, deveria saber que mais importante do que a vestimenta e a aparência, é o espírito interior e o bom senso de cada um.