Esta tarde, numa expedição à FNAC, enquanto mexia nos livros, prazer que os dispositivos electrónicos de leitura matam o que faz dispensá-los, oiço mesmo atrás de mim uma voz grossa irritada em tom ameaçador, "Porta-te bem senão chamo o segurança".
Por curiosidade olhei para tentar ver o potencial delinquente e tive que baixar a linha do olhar pois tratava-se de um gaiato que não teria mais de cinco anos.
Deu-me uma saudade do tempo em que as figuras que serviam, no fundo ninguém acreditava, para conter os comportamentos da miudagem era o "velho do saco", "o velho das barbas" ou, em versão mais autoritária "o polícia".
Esta nova opção, ameaçar chamar o segurança para conter o comportamento de um gaiato de quatro anos, é uma experiência inovadora e coerente com os tempos.
Tentei perceber o efeito mas o miúdo continuou a olhar para as capas de alguns livros e a querer ir embora, não sei se assustado com tanto livro inacessível à sua idade, se com medo que o segurança viesse.
Por outro lado fiquei, deformação de quem se interessa por estas coisas, a pensar se aqueles pais precisariam da ajuda sistemática de um "segurança" para regular o comportamento do miúdo. Se assim for, vão ter um bocado de trabalho pela frente no sentido de encontrar um grupo de seguranças que zele pelo miúdo em todos os momentos.
Não gostei da cena.
Uma nota final. Parece que o miúdo não terá ficado muito assustado com a eventual chamada do "segurança". Uns metros mais à frente ainda o vi puxar uns livros da prateleira para o chão com os pais a fingir que não "toparam".
É que o "segurança" não viria e eles não foram à FNAC para comprar uma briga com o filho, foram comprar outra coisa qualquer.
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