Por coincidência, a imprensa de hoje refere-se a duas questões que envolvem os mais velhos.
Em primeiro lugar, uma abordagem ao envelhecimento da população mundial e aos problemas sérios que este processo implicará e que já se sentem em muitos países. Portugal é um deles.
A segunda referência remete para um relatório da OMS que identifica Portugal como um dos cinco países europeus, entre 53, em que os velhos sofrem mais maus-tratos. Cerca de 39,4% dos velhos sofrem alguma forma de maus-tratos, que envolvem, por exemplo. extorsão, abuso psicológico, físico ou negligência.
Nos últimos tempos têm sido recorrentes as notícias sobre os maus-tratos aos velhos, aos seniores, como agora se diz.
Quer no seio das famílias, quer em instituições, algumas encerradas compulsivamente, tal é a gravidade das situações, multiplicam-se as referências à forma inaceitável como os velhos estão a ser tratados. Começam por ser desconsiderados pelo sistema de segurança social que com pensões miseráveis transforma os velhos em pobres, dependentes e envolvidos numa luta diária pela sobrevivência. Continua com um sistema de saúde que deixa muitos milhares de velhos dependentes de medicação e apoio sem médico de família. Em muitas circunstâncias, as famílias, seja pelos valores, seja pelas suas próprias dificuldades, não se constituem como um porto de abrigo, sendo parte significativa do problema e não da solução.
Finalmente, as instituições, muitas delas, subordinam-se ao lucro e escudam-se numa insuficiente fiscalização além de que, com frequência, os equipamentos de qualidade são inacessíveis aos rendimentos de boa parte dos nossos velhos.
Por outro lado, é também de referir que as alterações dos estilos de vida e dos valores produzem cada vez mais situações de solidão e isolamento entre os velhos, com consequências que têm feito manchetes. Estão em extinção as relações de vizinhança e a vivência comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
É certo que existe, felizmente, um pequeno número de idosos que além do apoio familiar, ainda possuem meios que lhes permite aceder a bens e equipamentos que contribuem para uma desejável e merecida qualidade de vida no fim da sua estrada.
Lamentavelmente, a grande maioria dos velhos, sofreu para chegar a velho e sofre a velhice. Não é um fim bonito para nenhuma narrativa.
Sem comentários:
Enviar um comentário