Não há como fugir. De há cerca de três anos para cá as circunstâncias de vida de muitos de nós agravaram-se dramaticamente.
O aumento exponencial do desemprego e os cortes sucessivos nos dispositivos de apoio social, criaram uma franja muito significativa de "desesperados", pessoas que acabam por acomodar uma percepção pessoal de impotência e falta de confiança nas capacidades de dar, como se costuma dizer, a volta por cima. Não esqueçamos os cerca de 20% da população que sobrevivem em risco de pobreza.
Temos vindo a assistir também a um esmagamento da classe média, que ainda mantém emprego e paga impostos, promovendo cada vez mais pobreza em camadas que se julgavam a salvo da crise. Ainda hoje é notícia o acréscimo de casos de sobreendividamento e insolvência atingindo níveis e consequências preocupantes.
Esta cenário, o empobrecimento imprevisível de algumas franjas sociais tem, do meu ponto de vista e ao contrário do que acontece com o grupo que referi acima e que já acomodou a pobreza, promovido um clima que oscila entre uma espécie de torpor anestésico e o espanto e perplexidade, ou seja, muita gente sente-se, como se diz em linguagem popular, atarantada e perdida, vendo ruir à sua volta um ambiente que julgava sólido. Vamos a ver como evolui esta percepção. Pode evoluir no sentido da acomodação à pobreza e desesperança ou, pelo contrário, evoluir para a reacção forte e turbulenta cujos contornos, já aqui falei e veja-se o caso da Grécia, podem ser graves e de consequências muito complicadas em termos sociais.
Finalmente, com a decisão recente das agências de abutres, também conhecidas por agências de "rating" de nos transformar em lixo assistimos a algo de particularmente grave e inesperado. A classe dirigente, quer política, quer económica, entrou ela própria num estado de atarantado e perplexidade, por assim dizer. Toda a gente, ao mais alto nível, confessa que não estava à espera, que estamos a fazer o necessário, que levámos "um murro no estômago", vociferam contra os ocultos e terroristas poderes das agências, elevam olhares e discursos para os donos a UE e mostram como também se sentem impotentes e atarantados pois parece que, definitivamente, deixámos de ter o nosso destino nas nossas mãos, dependemos do que alguém, não se sabe quem e a troco de quê, possa fazer.
É o pior que nos podia acontecer.
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