segunda-feira, 11 de julho de 2011

VELHICE E POBREZA

Segundo o INE e reportando-se a 2009 a taxa de risco de pobreza em Portugal continua alta tendo subido na população idosa, 20.1 % deste grupo etário vive esta situação. Se considerarmos os efeitos conjugados das dificuldades económicas e dos cortes em políticas sociais de 2010 e 2011, esta taxa tenderá seguramente a subir.
É também pertinente relembrar que dados do Eurobarómetro sobre os impactos sociais da crise, mostravam em Junho de 2010 que os portugueses tinham como preocupação fundamental a pobreza, 91% dos inquiridos, e a velhice, 69% dos inquiridos.
Se olharmos para conjunto de dados que vão sendo disponibilizados, verifica-se que as condições estruturais se mantêm sem alterações, estamos na mesma posição de pobreza há vários anos e, por outro lado, as condições conjunturais, a crise, acentuam a preocupação com a pobreza e com a velhice o que define um cenário altamente inquietante em termos de confiança no futuro e na desejada e necessária qualidade de vida.
Temos vindo a assistir a um acréscimo de dificuldades das organizações de solidariedade social no providenciar de apoios às dificuldades crescentes da população, sobretudo à mais idosa, e retorna a mendicidade ou o bater à porta das instituições, porventura de forma mais envergonhada e a atingir camadas diferentes.
Muitas vezes trata-se de gente que integra um grupo que designo por transparente, ou seja, os que preferimos não ver. São pessoas, geralmente, velhos ou desempregados, com olhos tão tristes e tão pesados que até dói enfrentar. Assumem uma postura tão despojada e embaraçada que nos deixam mais embaraçados. Muitos deles conseguem, ainda, evidenciar uma dignidade tão estranha que nos intimida e se torna difícil suportar. Este grupo, que, muitas vezes, “recusamos” ver e evitamos cruzar o seu caminho, daí chamar-lhe transparente, é, sobretudo, a face gritante do falhanço mais estrondoso do mundo actual, a pobreza.
E, como sabemos, não é fácil assumir e encarar os nossos falhanços, condição primeira para a mudança.

Sem comentários: