quinta-feira, 14 de julho de 2011

SEM MUDANÇAS CURRICULARES OS RESULTADOS NÃO SE ALTERARÃO

Um dia cumprido entre Almada e Aveiro apenas permitiu agora umas notas sobre os resultados dos exames do 9º ano. Estes resultados evidenciaram um abaixamento significativo dos resultados. Em termos sintéticos, em Língua Portuguesa a média baixou de 56 para 51 e a percentagem de negativas subiu de 29,7 para 43%. Em Matemática e sem surpresa, a situação é mais grave, média de 43 e 30% dos alunos com notas inferiores a 30.
Estes resultados que algumas análises associam à variação do grau de dificuldade dos exames têm sobretudo a ver e como parece cada vez mais consensual com a questão curricular como também muitas vezes aqui tenho sublinhado.
De há muito que me parece que sem uma séria reforma curricular não teremos alterações significativas e sólidas, não artificiais, nos conhecimentos dos miúdos e na qualidade do trabalho global das escolas. Nesta mudanças assumem especial centralidade as duas ferramentas fundamentais de acesso ao conhecimento, o domínio do português e da educação matemática.
A promoção de maiores competências e conhecimentos nestas duas áreas remete para o que me parece ser uma das mais urgentes prioridades dos nosso sistema educativo, a revisão curricular, quer a nível dos conteúdos, quer a nível da sua organização.
Se repararmos na matriz curricular em vigor parece relativamente claro que o tempo de trabalho destinado a português e à educação matemática dificilmente permitirão obter melhores resultados, apesar de iniciativas como o Plano Nacional de Leitura ou o Plano de Acção para a Matemática ou do trabalho das escolas que, através de dispositivos de apoio próprios, tentam minimizar as dificuldades de muitos alunos. Dado o volume de dificuldades e os recursos das escolas, estas iniciativas acabam, em regra, por ter como destinatários menos alunos do que o necessário.
Defendo um primeiro ciclo com seis anos e uma reorganização de conteúdos para estes primeiros anos de escolaridade obrigatória em que o Português e a Educação Matemática devem ocupar um lugar central.
Creio que de uma forma geral se entende que o correcto domínio da língua de trabalho, o português, é um requisito fundamental para as aprendizagens em todas as áreas curriculares, bem como a literacia matemática, base do conhecimento científico. Não se compreende, portanto, o pouco peso curricular dado ao português e à educação matemática, sobretudo no 2º ciclo em pleno processo de aquisição das ferramentas básicas de domínio da língua nas suas várias dimensões.
Assim sendo, independentemente da boa vontade de escolas e docentes ou de planos de natureza supletiva, a questão central remete para a necessidade de mais e melhor trabalho em dois domínios essenciais, a Língua Portuguesa e a educação matemática como os resultados hoje conhecidos parece sustentar e que estará na intenção do ME.
Considero também que o número de disciplinas e a extensão e natureza dos conteúdos curriculares se associam às questões mais frágeis do sistema educativo, designadamente no 3º ciclo, insucesso, absentismo e indisciplina, tudo dimensões fortemente ligadas aos níveis de motivação e funcionalidade percebida dos conteúdos curriculares. A lógica da "disciplinarização" excessiva dos saberes tem informado o sistema educativo mas também o sistema de formação de professores durante demasiado tempo, o que suporta esta disciplinarização sem sentido, 14 disciplinas para 25,5 horas de aulas no 3º ciclo. É, aliás, curioso notar, se bem estivermos atentos, a frequência com que a propósito de qualquer saber, se defende a existência de mais uma disciplina.
Deste quadro resulta, do meu ponto de vista, a necessidade imperiosa de mudança significativa na organização e conteúdos curriculares. A ver vamos.

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