Ainda sem se conhecerem os contornos mais concretos do programa político de Nuno Crato para o ME, as suas afirmações de ontem parecem-me positivas e de saudar.
Em primeiro lugar, assumiu a suspensão do "plano de fechamento" das escolas do 1º ciclo remetendo decisões posteriores para a análise diferenciada das situações. Muitas vezes aqui referi a necessidade de reorganização da rede escolar, desajustada em função de mudanças demográficas e sociais e, portanto, das próprias condições educativas em que as escolas funcionavam. No entanto, a questão não poderia ser resolvida apenas por critérios de natureza administrativa sem considerar outras variáveis de contexto.
Por outro lado, ainda no que respeita à rede escolar importa que o ME clarifique a sua perspectiva relativa aos mega-agrupamentos, cuja promoção e continuidade está inscrita no programa do PSD. Se o encerramento de algumas escolas do 1º ciclo pode ser um mau serviço à educação e à comunidade onde se inscreve, a insistência nos mega-agrupamentos pode configurar um problema ainda maior. Todos os estudos e as práticas mais recentes nos países com sistemas educativos de maior qualidade sustentam a necessidade de evitar a concentração excessiva de alunos.
A segunda nota remete para o anúncio da revisão curricular e o acentuar do trabalho dedicado à língua portuguesa e educação matemática, as bases do desenvolvimento e acesso ao conhecimento. O Professor Nuno Crato referiu em particular o que chama de "dispersão curricular" no 3º ciclo que importa ajustar. De há muito que entendo que o número incompreensível e insustentável de disciplinas, designadamente no 3º ciclo, como contributo para diferentes problemas, insucesso, indisciplina e absentismo. Relembro que a Ministra Isabel Alçada também manifestou no início do seu mandato a intenção de proceder a uma revisão curricular mas as reacções imediatas e corporativas das Associações Científicas assentes na ideia importada da ecologia "not in my backyard" levaram a que abortasse a revisão curricular, transformando-a num "mero ajuste" irrelevante. Esperemos que seja desta.
Aguardo com expectativa novas intervenções do Ministro para perceber, por exemplo, o que pensa sobre os dispositivos de apoio educativo às dificuldades de alunos e professores, ferramenta indispensável à promoção da qualidade e do sucesso. É bom antecipar que, entendendo o Professor Nuno Crato que as avaliações dos alunos realizadas das escolas e em provas nacionais têm sido fáceis para promoverem estatísticas de sucesso, a introdução de sistemas de avaliação mais rigorosos e sólidos promoverá certamente a emergência de (mais) dificuldades e insucessos. Ninguém conhecedor da realidade da educação escolar acredita que só por se chumbar os miúdos, o sucesso cairá do céu no ano a seguir.
Mais uma vez, os estudos e os exemplos de boas práticas mostram que o sucesso na ultrapassagem de dificuldades e insucessos, para além, obviamente do trabalho dos miúdos, está fortemente relacionado com os apoios disponíveis a alunos e professores.
Uma última nota para a expectativa sobre o pensamento do Ministro sobre a educação especial. Bom, mas cada coisa a seu tempo.
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