Em diferentes ocasiões tenho referido no Atenta Inquietude a importância do que tenho designado exactamente por uma dimensão psicológica da crise, a confiança, ou, mais claramente, a falta de confiança. A importância da percepção de confiança constata-se em termos individuais, quando nos sentimos confiantes, sentimo-nos mais capazes, constata-se em termos de grupo, a título de exemplo, uma equipa de futebol confiante será seguramente mais eficaz, constata-se de forma genérica em qualquer instituição e, finalmente, poderemos também dizer que sociedades mais confiantes sentir-se-ão mais capazes de enfrentar dificuldades.
Assim sendo, parece importante que as lideranças, entre todas as suas competências e acções, sejam capazes e competentes no sentido de transmitir confiança. Deste ponto de vista é interessante perceber a confiança ou, ausência dela, perceptível nas mais recentes afirmações públicas de Mário Soares ou Cavaco Silva.
No entanto, acontece que as nossas lideranças, sobretudo as que detêm responsabilidades politicas relevantes, subordinam, quase sempre, as suas acções e posições aos interesses imediatos, sobretudo partidários, ou seja, basicamente, quem governa faz discursos tendencialmente optimistas, pouco transparente e contraditórios, que muitas vezes parecem negar a realidade, pintando-a de rosa e quem está na oposição produz fundamentalmente discursos e visões catastrofistas. Como é óbvio, os cidadãos têm cabeça, qualquer dos discursos são um péssimo contributo à confiança realista e informada que precisamos de sentir face a dificuldades e a desafios complexos.
Nos últimos tempos, em que se têm acentuado as consequências dramáticas da crise a nível do emprego e da diminuição dos apoios sociais por exemplo, seria ainda mais necessário um discurso que contribuísse para identificar um rumo e promovesse e envolvesse os cidadãos na convicção e confiança de que seremos certamente capazes de ultrapassar, ainda que com momentos dolorosos, os tempos que vivemos.
O problema é que muita desta gente e dos seus discursos e comportamentos são parte do problema, dificilmente serão parte da solução.
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