Ainda que com algum atraso não se estranha também Portugal se envolveu no movimento de desinstitucionalização das pessoas com doença mental.
Os modelos defendidos pela comunidade científica actual, a defesa dos direitos humanos e da qualidade de vida, tornaram insustentável a manutenção das grandes instituições psiquiátricas que encerravam muitas câmaras de horrores e casos de isolamento e privação. Ainda me lembro do incómodo causado por visitas realizadas no início da minha formação ao Hospital Júlio de Matos. Este universo é bem retratado no mítico “Jaime” de António Reis e Margarida Cordeiro.
O Público de hoje apresenta um trabalho muito interessante sobre os últimos dias do Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda.
No entanto, este movimento de retirada das pessoas com doença mental das grandes instituições nem sempre está a ser devidamente suportado por unidades locais que providenciem apoio terapêutico, social e funcional tão perto quanto possível das comunidades de pertença dos doentes.
A alternativa tem passado, sobretudo, pela integração em lares muitas vezes sem condições, sem apoios adequados e onde as condições de isolamento e guetização se mantêm comprometendo processos de reabilitação e inserção comunitária.
No fundo e em algumas circunstâncias, mantém-se inalterada a situação, os doentes mentais são os mais desprotegidos dos doentes, pior, só os doentes mentais idosos. Os custos familiares e sociais da guetização são enormes e as consequências são também um indicador de desenvolvimento das comunidades.
Este grupo social é, em qualquer sociedade, um dos mais expostos à exclusão.
Sem comentários:
Enviar um comentário