Hoje de manhã, depois de acabar a corrida no Parque da Paz, quando me preparava para voltar, fui abordado por duas senhoras simpáticas, aquelas figuras que por vezes nos interpelam na rua ou nos batem à porta propondo-nos generosamente o caminho, a orientação.
Certamente pelo cansaço dos quilómetros feitos, além de recusar com delicadeza, acho, a oferta do material de leitura, afirmei a minha condição de não crente com a expressão, "a vida ensinou-me a não acreditar". Curiosamente, uma das senhoras respondeu-me "E eu aprendi a acreditar" e insistiu na entrega de um opúsculo acompanhado de um incentivador, "o senhor tem ar de quem gosta de ler". Aceitei mas ainda não li.
Fiquei, no entanto, a pensar como seria o meu olhar sobre o mundo se eu acreditasse. Fui aprendendo a pensar que nós homens fazemos o que de bom e mau está no mundo. E se de repente pensasse que afinal, não somos nós os (únicos) responsáveis pelas coisas tão feias que acontecem e também pelas coisas tão bonitas que existem.
Os homens cometem, provocam, aceitam, impõem sofrimentos sem fim porque a sua condição de humanos lhes impõe, por vezes em nome do acreditar, fraquezas, imperfeições e maldade, que geram, por exemplo, a morte de milhares de crianças por fome todos os dias. Este quadro decorre da vontade dos homens ou corresponde a um desígnio que está para além dos homens?
Se tantas vezes se diz que o homem põe e Deus dispõe, porque disporá Deus tanta dor e tanta tragédia para gente que ainda mal entrou no mundo e nem chega à condição de gente. Será castigo ou prova? Mas porquê as crianças Senhor?
Se eu acreditasse poderia ser diferente. Seria? Não, não seria. Mas teria mais Alguém junto de quem protestar. Com convicção.
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