Hoje, soube pelo DN do número já significativo de situações, referido por relatos de profissionais envolvidos, em que os pais contratam “detectives privados” para vigilância dos filhos sobretudo ao nível dos comportamentos de consumo, companhias, locais frequentados, etc. Devo confessar que fiquei inquieto. Sou pai, conheço os factores de risco hoje presentes na vida de adolescentes e jovens, por isso, percebo que os pais entendam conhecer o que se passa com os filhos por qualquer meio que vislumbrem contribuir para o seu sossego. Mas, de facto, inquieta-me a situação. Em primeiro lugar pelo que significa de falta de confiança nos filhos e da percepção de incapacidade para conhecer o que é a actividade dos filhos. Inquieta-me também pela natureza ética da situação, espiar alguém, o que pode até estar nos limites da legalidade.
Finalmente, inquieta-me pelos riscos que a situação pode ter na relação entre pais e filhos, ou seja, o meu pai vem dizer-me, por exemplo, que eu, ontem à noite, bebi umas cervejas a mais, perplexo pelo seu conhecimento, procuro-lhe porque diz isso e como sabe e ele responde-me que o detective contratado para me seguir o informou. Não parece difícil imaginar o efeito devastador que esta cena imaginária pode ter na relação entre nós. Se de facto eu beber uns copos a mais, não acredito que este processo de espionagem possa permitir reverter a situação, antes pelo contrário, como reacção pode até aumentar o risco. Para além de comprometer séria e definitivamente a relação que se exige de confiança recíproca entre pais e filhos. Não aceito o argumento de que isto seja romântico ou negligente. Sem essa confiança não há mudança e o risco de desvio é maior. É também uma questão de confiança dos pais em si próprios.
1 comentário:
Lidar com o superego já é mau então com o superpai é pior.
Abraço
A.C.
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