Amanhã teremos crianças e adolescentes e jovens de regresso à escola, mais uma situação atípica nestes dois anos infernais.
Não sendo um dos milhões de especialistas em saúde pública
quero acreditar que os riscos de perturbação possam ir diminuindo, quer pela
melhoria dos indicadores relativos à pandemia associados às suas características
e aos efeitos da vacinação, quer pela alteração de regras para gerir eventuais
casos de infecção. Talvez esteja a considerar os meus desejos como a realidade,
o que, aliás, é frequente nos discursos em educação, mas a ver vamos.
Na linha do que cada vez mais tem sido divulgado, para além
do impacto nas aprendizagens precisamos de estar particular atentos ao
bem-estar dos alunos.
A experiência já vivida com os períodos de confinamento
total por que passaram milhões de crianças e adolescentes em todo o mundo com o
encerramento de escolas e, praticamente, de todos os serviços da comunidade de
que são utentes, não podia deixar de ter implicações no seu bem-estar.
Desde logo e naturalmente pelo impacto no seu trajecto
educativo e de aprendizagem, mas também no seu bem-estar, na sua saúde mental.
Aliás, também nos adultos é considerável este impacto.
O confinamento a que foram sujeitos em contextos familiares
em que nem sempre os factores de protecção equilibravam os factores de risco,
sustentou mudanças no seu bem-estar e comportamentos e a emergência de quadros
de risco que agora viajam na "mochila" que os alunos carregam para a
escola.
Já são conhecidos muitos trabalhos que mostram esse efeito o
que, naturalmente, aumenta a importância do retorno às escolas, mas,
simultaneamente, a necessidade de que as comunidades educativas tenham os
recursos ou dispositivos de acesso a esses recursos que acomodem as situações
de vulnerabilidade psicológica em que muitos alunos retornam às escolas. As
crianças e adolescentes com necessidades específicas estarão muito
provavelmente em situação de risco acrescido. A este propósito é interessante a
entrevista de Teresa Freire no DN.
Crianças e adolescentes são mais resistentes do que, por
vezes, parecem, felizmente. No entanto, como já tenho escrito, importa um
ambiente sereno que tranquilize e apoie alunos e pais no regresso e, naturalmente,
a existência dos apoios adequados à promoção do seu trajecto educativo e
desenvolvimento. É ainda necessário recordar que também professores e todos os
que estão nas escolas precisam dessa tranquilidade para que possam ter mais
bem-estar e melhor ensinem, apoiem e aprendam.
Estava a escrever isto e a recordar, mais uma vez a
expressão que ouvi em Moçambique ao Velho Carlos Bata, “as crianças só aprendem quando se
riem” e, digo eu, só se riem quando estão bem.
Não temos, longe disso, uma etapa fácil pela frente, mas
temos de investir no empenho e nos recursos de diferente natureza para que não
tenhamos um futuro de risco que defina a geração Covide-19.
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