terça-feira, 4 de janeiro de 2022

ELE NÃO FALA COMO A GENTE

 Na imprensa de hoje é referido o aumento significativo de alunos estrangeiros que se tem vindo a verificar nas nossas escolas.

Seria previsível pois tem vindo a aumentar a vinda para Portugal de cidadãos de outros países. Contrariamente ao que as narrativas xenófobas que se vão escutando afirmam, é importante esta vinda de pessoas de outras paragens que se radiquem por cá através de projectos de vida bem-sucedidos e contributivos para o desenvolvimento das nossas comunidades. Minimiza-se o efeito do Inverno demográfico que vivemos levando envelhecimento significativo da população portuguesa rejuvenescendo-se as populações.

Como é evidente este movimento implica a existência de crianças e a necessidade da sua educação escolar, certamente, a mais potente ferramenta contributiva para a sua boa integração na comunidade.

Segundo o JN, com base em dados do ME, nos últimos dois, 17/18 e 19/20, aumentou 47% o número de alunos estrangeiros em escolas portuguesas do básico e secundário. Em 17/18 tínhamos 56574 alunos estrangeiros e em 18/19 já eram 83307. Desconhecem-se os dados de 20/21 embora também se preveja um forte aumento.

Para além de dos alunos oriundos de países europeus parece em crescimento o número proveniente da China, do Paquistão, da Índia, do Nepal ou da Venezuela a que acresce o retorno de emigrantes com filhos em idade escolar que não dominam o português.

Este movimento não pode deixar de constituir o um enorme desafio para muitas escolas. É citado o exemplo, de um Agrupamento de Escolas em Guimarães com 17% dos seus alunos a aprender a falar português, 30 vindos de países europeus e 33 com outra origem.

O ME avançou com a criação da disciplina de Português Língua Não Materna, mas que só é criada com um número mínimo de 10 alunos.

Está, pois, criada, uma dificuldade acrescida para promover de forma eficiente o domínio da língua de aprendizagem, o português, e o impacto negativo que tal terá no seu trajecto escolar. Aliás, são bem conhecidas as enormes dificuldades que muitas comunidades portuguesas de emigrantes portugueses sentiram e sentem no processo de escolarização dos seus filhos em diferentes países da Europa.

Sabemos da enorme dificuldade de conseguir que em cada escola se consiga responder de forma eficaz às necessidades específicas da população que a frequenta, nenhuma dúvida sobre isto.

No entanto, também sabemos, o domínio proficiente da língua de aprendizagem é imprescindível a um trajecto escolar com sucesso.

Não existe normativo ou discurso em educação que não sublinhe as ideias de educação inclusiva, equidade, a diversidade, etc. A questão são as políticas públicas e os recursos de diferente natureza que este desafio exige, a retórica, não chega.

Estes alunos, tal como outros, enfrentarão sérias dificuldades e um risco grande de insucesso.

E é bom não esquecer que o seu sucesso será um forte contributo para as comunidades onde se integram, assim como poderemos ter que pagar um preço alto pelo seu insucesso e exclusão.

Uma nota final de natureza pessoal referindo a experiência rica de aprendizagem que o meu neto Simão tem vivido com o seu coleginha e amigo chinês, o  Leo, da turma do 3º ano. É boa para todos.

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