Para fugir um pouco à agenda marcada pela pandemia e pelas legislativas e porque estava a realizar algumas leituras para preparação de trabalho no âmbito da educação familiar e nos desafios que se colocam recupero algumas notas.
É muito frequente receber dos
profissionais que trabalham em contextos escolares referências aos comportamentos
(negativos) dos miúdos, crianças ou adolescentes e como, na sua perspectiva,
esse mau comportamento decorre de uma educação familiar pouco promotora de
regras e comportamentos adequados.
Por diversas vezes aqui tenho
afirmado, de forma mais séria ou através de estórias, sobre a ideia de como o
”não” e o ”sim” são bens de primeira necessidade na vida dos miúdos.
Acontece que, por diferentes
razões, na vida das famílias, de muitas famílias, parece estar a ser
progressivamente mais difícil administrar o “não” usando-se de forma, por vezes
excessiva, o “sim”, seja de forma mais activa ou apenas por omissão do “não”.
Tal cenário acaba por estar
associado a situações em que os miúdos evidenciam grandes dificuldades em
perceber as regras e os limites do seu comportamento, uma das funções mais
importantes do “não”. Como consequência, o comportamento dos miúdos torna-se
despótico, desregulado, transformando-os no “pequeno ditador” de que alguns
falam e muitos conhecem, gerando-se situações de grande embaraço e climas
educativos e relacionais pouco saudáveis entre graúdos e miúdos.
Assistimos com muita frequência a
cenas bem exemplificativas deste funcionamento, pais envergonhados e impotentes
e meninos a fazer o que lhes passa pela cabeça, quando lhes passa pela cabeça.
Em muitas circunstâncias, os
estilos de vida dos pais, o pouco tempo que têm para os miúdos, instalam de
mansinho um sentimento de culpa que leva a que alguns pais, quase sempre sem se
dar conta, se inibam, para evitar situações de tensão ou crispação que
"estraguem" o pouco tempo que têm para os filhos, de dizer de forma
firme e persistente, “não”, "não podes fazer isso". Acontece que o
“não” inicial desencadeia no miúdo uma reacção de birra, mais ou menos
exuberante, a que os pais não resistem e, é uma questão de tempo, o “não” passa
a “sim” quase sempre acompanhado de um “só desta vez”, “só uns minutos” ou
qualquer outra expressão que na circunstância atenue o desconforto.
Os miúdos são inteligentes,
percebem muito facilmente quando um não é não ou quando o não passa rapidamente
a sim. Aprendem com serenidade as regras e os limites. É, pois, fundamental que
os pais se sintam confiantes e usem o “não” de forma adequada, ainda que
flexível, sem medos das “birras” ou de perderem o afecto dos miúdos por serem
“duros”.
Na verdade, as crianças precisam
dessas regras e dos limites para estabelecer relações de afecto positivas, a
sua ausência é que é um risco.
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