Estamos a entrar na última semana de campanha eleitoral, mais uma em circunstância estranhas, quer pela tragédia da pandemia, quer pela forma como fomos forçados a eleições. Não sabemos ainda como vai acabar, provavelmente alguns não esperariam o grau de imprevisibilidade que agora parece existir, e a discussão tem estado enredada na chamada governabilidade, quem se junta a quem para formar governo.
Fala-se muito em portas fechadas
e portas abertas e preocupa-me que o cenário esteja, aparentemente, mais claro
no lado direito do espectro político que no lado esquerdo, para ainda usar esta
“arrumação”. A clareza de projectos e intenções é útil e importante para a
tomada de decisão dos eleitores.
Confesso que tenho alguma
dificuldade em entender que tal aconteça, pois se tentar perceber o que do
ponto de vista dos envolvidos nestas decisões está em jogo, creio que ninguém
ganhará e muita gente sem voz nas discussões poderá perder.
Não tenho competência nem quero
substituir analistas políticos, comentadores, opinadores e demais politólogos,
mas duas ou três coisas me parecem claras.
Embora o PS tenha assumido o objectivo da
maioria absoluta esta não parece estar segura. Se como pode ser mais provável,
tiver maioria relativa, seria desejável que soubéssemos de antemão a
disponibilidade clara para novos entendimentos à esquerda ou a opção pela
tentativa de um governo com o apoio do PSD. Em nome da transparência e da
seriedade política era importante conhecer o posicionamento do PS.
Por outro lado, num cenário de
vitória do PSD ou de uma coligação liderada pelo PSD teremos um risco de deriva
de políticas públicas no sentido da desregulação, liberalismo e um caminho de
privatização em áreas chave como saúde ou educação.
Parece-me ainda bastante provável
que PCP e BE saiam “chamuscados” do processo que determinou a queda do
governo e comprometer a existência ou dimensão de maioria à esquerda.
Correm o risco de retornar ao que
parece ser a sua vocação e zona de conforto, protestar sem assumir os encargos
da governação que, em democracia, exigem negociação mantendo-se num “contrismo”
que pouco beneficiará o "povo" ou o "país" como também se
usa.
Aparentemente, nos últimos dias o PC, mas também o BE parecem mostrar maior disponibilidade para uma eventual convergência com o PS que insiste na não definição do que proporá face aos diferentes cenários possíveis na noite de 30 de Janeiro. Recordo que esta disponibilidade foi já anunciada pelo Livre e, de certa forma, também pelo PAN.
Fico, pois sem perceber o que
verdadeiramente sustenta esta situação. Não sou simpatizante fidelizado de
nenhum dos partidos potencialmente signatários de um acordo para uma nova maioria
de esquerda a suportar o Governo, o que não obsta a que tenha um posicionamento
de natureza ideológica, sim ideológica, que me faça assumir a necessidade e a
esperança num caminho diferente do que tivemos com PSD e CDS-PP, e Chega ou IL na
governação ou no apoio à governação.
As dificuldades internas e
externas serão imensas e muita gente deseja também um falhanço deste acordo à
esquerda, é ouvir e ler como se esforçam nesse sentido. É interessante assistir
ao voo dos abutres por cima de tudo isto, os seus discursos na imprensa em que
se abrigam são patéticos.
O caminho é difícil, os
obstáculos e armadilhas são muitos e grandes, a margem de erro é estreita, mas
não podem falhar na construção e manutenção de uma outra via mais amigável para
as pessoas. É esse o sentido da mudança necessária.
Não podem falhar por
responsabilidade vossa.
A história não vos absolverá.
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