Foi divulgado um trabalho, "Portugal, Balanço Social 2021: Um retrato do país e de um ano de pandemia", realizado por Susana Peralta, Mariana Esteves e Bruno P. Carvalho da Nova School of Business & Economics no qual é feito uma análise ao impacto da pandemia.
No que respeita à educação e com base na comparação dos
resultados provas de aferição nos 2.º, 5.º e 8.º anos de escolaridade
realizadas em 2021 com os resultados dos anos de 2018 e 2019.
De acordo com o trabalho as diferenças são significativas e,
sem surpresa, afectam fundamentalmente os alunos de meios sociais económicos
mais vulneráveis. Entendem que a não recuperação destas dificuldades, que
pensam ser possível, condicionará fortemente o trajecto futuro destes alunos e
recordam que está em operacionalização o Plano 21/23 Escola + justamente com
esse objectivo.
Deixem-me recordar o que escrevi em Setembro de 2021 quando
foram divulgados os resultados das provas de aferição realizadas no 5º e 8º ano
nas áreas de Matemática, Português e Inglês e no 2º ano em Matemática, Estudo
do Meio e Português.
As provas não se realizaram em 2020 e comparativamente a 2018
e 2019 os resultados foram mais baixos na generalidade das disciplinas e
domínios avaliados sendo ainda de registar que em 2021 apenas uma amostra de
alunos participou. Também a avaliação em Inglês não é comparável, mas os
resultados são também baixos.
Um outro dado relevante, mas expectável e agora na
enfatizado no trabalho da U. Nova, os resultados dos alunos que não têm apoios
sociais escolares “são sempre superiores aos dos alunos com Acção Social
Escolar em todas as literacias, em todos os anos de escolaridade e em todos os
níveis de proficiência”.
Esta diferença verifica-se mesmo quando os alunos mais com apoio
da ASE têm acesso a recursos digitais.
Muitas vezes afirmo que para produzirmos boas respostas
importa que façamos boas perguntas. As provas de aferição realizadas por
amostra produzem alguns indicadores que serão relevantes, mas as boas respostas
só podem ser dadas a partir das perguntas realizadas por cada professor, em
cada escola a cada grupo de alunos, a cada aluno.
Depois e quanto ao providenciar das respostas vem a questão
central, recursos humanos e materiais e dispositivos de apoio competentes e
suficientes.
Como já foi referido está nas em desenvolvimento em
implementação o Plano 21/23 Escola + para recuperação de aprendizagens
comprometidas.
Sabemos que o maior ou menor impacto nas aprendizagens, por
múltiplas razões, é extremamente diversificado em cada aluno. Parece
razoavelmente claro que a diversidade de situações, o seu número, os anos de
escolaridade dos alunos, as variáveis contextuais relativas a cada comunidade
escolar, recursos disponíveis em cada comunidade, as necessidades específicas
de muitos alunos, etc. etc. sugerem que devem ser as escolas a avaliar as
necessidades, identificar os recursos necessários, estabelecer objectivos,
definir metodologias e dispositivos de regulação e avaliação.
Os professores sabem como avaliar e identificar as
dificuldades dos alunos. O que verdadeiramente é imprescindível é dotar as
escolas dos recursos necessários para minimizar tanto e tão rápido quanto
possível as dificuldades que identificam. Recursos suficientes para recorrer a
apoios tutoriais ou ao trabalho com grupos de alunos de menor dimensão, apoios
específicos a alunos mais vulneráveis, técnicos, psicólogos, por exemplo, num
rácio que possibilite um trabalho multidimensionado como é exigido, etc., são
essenciais. Torna-se também necessária a existência de dispositivos de
regulação que sustentem o trabalho desenvolvido, de processos desburocratizados.
Para além das narrativas institucionais mais “simpáticas”,
por assim dizer, o que se vai sabendo das escolas mostra, sem surpresa, o
conjunto de dificuldades que se continuam a sentir.
Por outro lado, considerando os indicadores relativos ao
impacto das variáveis relativas ao contexto sociofamiliar e económico dos
alunos nos seus trajectos de aprendizagem é preciso considerar que não é uma
questão compatível com um Plano de curto prazo por melhor que seja.
Na altura referi um trabalho divulgado em Maio de 2021 pela
Human Rignts Watch sobre os efeitos da pandemia na população escolar e com
dados da ONU afirmava-se que “Uma em cada cinco crianças estava fora da escola
antes mesmo da covid-19”.
Num cenário de desigualdades que a pandemia potenciou e que
o pós-pandemia continuará a revelar ainda mais relevantes se tornam as
políticas públicas.
É neste contexto que emerge a razão destas notas. Do meu
ponto de vista, a questão central não deve ser definida em torno da recuperação
dos efeitos da pandemia nas aprendizagens ou no bem-estar através de planos de
recuperação finitos, mas sim, na mudança ao nível das políticas públicas dos
diferentes países, incluindo Portugal, que, para além de forma mais imediata
“recuperarem aprendizagens”, tenham impacto a prazo através de recursos
suficientes e competentes, definição de dispositivos de apoio eficientes e de
acordo com as necessidades, apoios sociais que minimizem vulnerabilidades que a
escola não suprime, valorização da educação e dos professores, diferenciação e
autonomia nas respostas das instituições educativas, etc.
Sintetizando, para além da conjuntura próxima, cuidar dos
danos da pandemia, importa considerar o que é estrutural e imprescindível em
nome do futuro, a qualidade da educação e uma educação de qualidade para todos.
Finalmente, gostava de fazer um convite aos leitores que por aqui passam e que estejam ligados ao trabalho em escolas do ensino básico. Apesar de algum conhecimento mais pontual gostava de conhecer um pouco melhor como está a decorrer em termos práticos o trabalho nas escolas relativamente ao Plano 21/23 Escola +. Aspectos como estratégias e metodologias, recursos docentes, técnicos e de equipamentos digitais, formas de monitorização e regulação, resultados globais, apoios, dificuldades, etc.
Agradeço alguma informação que pode ser enviada através do mail do blogue e salvaguardando a confidencialidade da forma possível.
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