Acabei de ler que o Secretário de Estado Adjunto e da Saúde afirmou que as aulas se irão mesmo iniciar a 10 de Janeiro. Parece-me importante que assim seja.
Na sequência fiquei a pensar na escola. A verdade é que, a educação
em geral e a educação escolar mais em particular, foram e continuam a ser o meu
universo profissional e a minha paixão, é difícil não “pensar” na escola.
Talvez por isso a preocupação seja maior.
O olhar para a escola, enquanto instituição, não nos (me) sugere
a tranquilidade que desejaria e julgo ser necessária e não estou a considerar o
impacto da situação pandémica embora, naturalmente, também não o possa esquecer.
Creio que muitos de nós ligados à educação e à escola continuamos
a ter um olhar encantado sobre a sala de aula e sobre o estar com alunos, mas um olhar muito desencantado
com a escola ainda que não queira produzir generalizações abusivas. Também é
verdade que este olhar desencantado coexiste com uma visão e discursos que
parecem assentes num exercício de “wishful thinking”, particularmente promovidos
pelo ME em que (quase) tudo parece estar bem e no bom caminho.
Não vou considerar aqui os aspectos críticos ligados às
questões de natureza profissional do maior grupo que está na escola, os
docentes, como a sua valorização, as questões ligadas à carreira, aos modelos e
impactos da sua avaliação, o estatuto salarial, as características demográficas,
o cansaço e as consequências que daí advêm, entre outros. São muito importantes
e exigem uma acção que tarda.
Estas notas dirigem-se mais para a escola enquanto
instituição e o desencanto que parece estar a produzir. São múltiplas as dimensões
contributivas para algum mal-estar.
Muitas vezes aqui tenho abordado algumas dessas questões e
sem ordenar por qualquer critério creio que o modelo de governança da escola, a
esmagadora carga de burocracia que consome esforço e tempo por docentes e técnicos,
uma narrativa assente numa permanente ideia de inovação e mudança de paradigma
que produz uma chuva de projectos e de iniciativas, muitas vezes, vindas do exterior
quer em programas de intervenção, quer em programas de formação que consomem recursos
(tempo, materiais e humanos) com avaliações que nem sempre são suficientemente sólidas,
são alguns exemplos.
Apesar de algum aumento continua a sentir-se falta de
técnicos e docentes que sobrecarregam os profissionais que existem e ainda
assim continuamos ter alunos demasiado tempo sem professores a algumas
disciplinas. A escola carece de dispositivos de apoio suficientes e competentes
para alunos e professores bem como de recursos que sempre se anunciam, mas
sempre se atrasam, meios digitais, por exemplo.
A autonomia das escolas e dos profissionais que estão na escola
associada a caminhos nem sempre claros de municipalização e regionalização
também são varáveis desta equação.
Como disse, não tenho qualquer intenção de produzir
discursos negativos e muito menos catastrofistas, confio na escola, mas para
que assim seja importa que tenhamos uma perspectiva realista dos problemas, a
única maneira de poder procurar um caminho mais positivo.
Como contributo para a reflexão sobre este caminho, parece-me interessante o
texto de Paulo Prudêncio no Público, “Mude-se a escola para que regressem os professores”.
Vamos ter eleições legislativas que darão início a um novo
ciclo governativo. Que pensa sobre estas matérias (e outras respeitantes à
educação”, quem se propõe governar?
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