No Notícias Magazine encontrei
uma peça muito interessante sobre o trabalho desenvolvido na Escola Básica de
São João de Ver, Santa Maria da Feira. Na entrada da escola está “uma fábrica feita de papelão com pássaros e corações estampados, uma torre, desenhos de engrenagens e orifícios que recebem tampas de plástico que simbolizam as emoções da tristeza, da raiva, do medo, da frustração. A Fábrica das Emoções tem um aspeto tosco, desengonçado e surgiu para reciclar emoções negativas”.
É mais um exemplo do trabalho
desenvolvido em diferentes escolas no âmbito da gestão das emoções e do seu
papel nos processos educativos, quer no comportamento quer nas aprendizagens.
Parece também claro que esta questão envolve alunos, professores, pais e outros
intervenientes nestes processos.
É uma questão importante que me
deixa a pensar e retomar novas velhas.
As alterações nos estilos de
vida, nos valores sociais, culturais, económicos, etc., nos modelos de
desenvolvimento económico e consequente visão política e as suas consequências
nas políticas educativas parecem ter criado um tempo em que emerge a
necessidade de “trabalhar” as emoções nos contextos educativos. Os climas
sociais e de aprendizagem em diferentes escolas e salas de aula são pouco
amigáveis para alunos mas também para professores como múltiplos estudos
evidenciam.
Talvez tenhamos que reflectir
sobre isto e retomar coisas velhas, nada “inovadoras”, nada
"revolucionárias", nenhum “novo paradigma”, a educação escolar é
estruturada e alimentada pela relação e a relação, para que exista e seja
positiva, tem como ingrediente … a emoção. Nas minhas conversas por aí sobre
estas coisas da educação desafio muitas vezes pais ou professores a recordarem
muito brevemente professores de quem guardam boas memórias. Quando lhes
pergunto porquê, as justificações remetem muito significativamente para a
relação que com eles tiveram, para além do que com eles aprenderam das “coisas
da escola”.
Como dizia em cima, a educação
escolar, a acção do professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação
que se operacionaliza na comunicação. Também por isso são também preocupantes
os tempos que vivemos em que os professores têm pouco tempo para comunicar,
para conversar com os alunos e as emoções entram em turbulência e descontrolo.
A pressão para os resultados, a extensão dos conteúdos curriculares, o número
de alunos por turma, por exemplo, dificultam essa relação. O professor “fala
com o programa”, a maioria dos alunos entende, outros não e como esses é
preciso falar mas … para os mandar calar ou até sair. Há pouco tempo para
conversar, para “cativar”, como diria Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que
os professores, tanto ou mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são.
Quando nos lembramos com ternura e admiração de alguns professores é pelo que
eles eram e nem sempre pelo que nos ensinaram apesar da importância que tenha
tido.
A este propósito uma pequena
história. Há uns tempos, num trabalho com professores numa cidade do interior,
uma Professora, das grandes, contava que tinha uma experiência muito
interessante com uma turma CEF, as dos "alunos de segunda" como
muitas vezes são vistas. A professora comentava com os miúdos como estava
satisfeita com as mudanças positivas que eles apresentavam e perguntava a que
se deviam.
Um dos miúdos, o
"chefe", respondeu "sabe, boceses gostam da gente, falam com a
gente e a gente gosta de boceses". Quando nos contou isto a professora não
escondeu uma lágrima.
O Mestre João dos Santos quando
afirmava que alguém tinha sido seu professor justificava, "porque foi meu
amigo".
São assim os professores que nos
marcaram. Pela positiva, evidentemente.
Sendo certo que precisamos de ajustamentos regulares no que fazemos, no como fazemos e para que fazemos, não “inovemos” tanto, não
queiramos tantos “novos paradigmas”, não "mudemos" tudo pela ilusão
mágica da mudança.
Criemos, apenas, o tempo e o modo
para que nas salas de aula os professores e os alunos tenham o tempo e a
circunstância que lhes permita comunicar, entre si, com a razão e com a emoção.
Irão aprender e serão gente de bem.
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