Desta vez o choque e o horror
aconteceram em S. Paulo, Brasil. Dois jovens, antigos alunos de uma escola,
mataram 8 pessoas entre os quais cinco alunos dessa escola. Acrescenta-se assim
mais um marco trágico num caminho que já vai longo, demasiado longo. Recorde-se alguns dos mais brutais, Santa Fé, Texas e
Parkland, (2018), Columbine (1999), Virgina Tech (2007), ou Sandy Hook (2012) .
Em cada momento desta trágica
natureza invade-nos um sentimento de perplexidade. Porquê?
Acontecem com regularidade
episódios desta natureza ainda que alguns com menor gravidade. Para além dos
episódios que referi nos Estados Unidos também a Noruega, França ou Finlândia
assistiram a grandes tragédias.
Em alguns casos, lembro-me, por
exemplo, dos distúrbios de há uns anos em Inglaterra em que os comportamentos
observados assemelhavam-se grotescamente a um videojogo violento com
personagens reais.
Também em Portugal se têm
verificado alguns casos de violência extrema envolvendo jovens, apesar de
terem, felizmente, efeitos menos trágicos, levando-nos a questionar os nossos
valores, modelos educativos, códigos e leis pela perplexidade que nos causam.
Esta perplexidade exige a
necessidade de tentarmos perceber um processo que designo como "incubação
do mal" que se instala nas pessoas, muitas vezes logo na infância e
adolescência, a partir de situações de mal-estar que podem passar relativamente
despercebidas mas que insidiosamente começam a ganhar um peso interior
insuportável cuja descarga apenas precisa de um gatilho, de uma oportunidade.
A fase seguinte pode passar por
duas vias, uma mais optimista em que alguma actividade, socialmente positiva,
possa drenar esse mal-estar, nessa altura já desregulação de valores, ódio e
agressividade, ou, a outra via, aumenta exponencialmente o risco de um pico que
pode ser um tiroteio numa escola ou noutro espaço público, a bomba
meticulosamente e obsessivamente preparada ou uma investida contra alguém
arriscando a entrada numa espiral de violência cheia de "adrenalina",
em nome de coisa nenhuma a não ser de um "mal-estar" que destrói
valores e gente. Os jovens envolvidos neste episódio parecem corresponder ao
padrão de quem “incubava o mal” e, aparentemente, estavam entregues a si e ao
seu mal-estar.
É evidente que a punição e a
detenção constituírem um importante sinal de combate à sensação de impunidade
perigosamente presente na nossa comunidade mas é minha forte convicção de que
só punir e prender não basta. Aliás, estes jovens, numa espiral de violência e
tragédia brutais puseram também fim à sua estrada.
Sabendo que prevenção e programas
comunitários e de integração têm custos, importa ponderar entre o que custa
prevenir e os custos posteriores da violência, da delinquência continuada e da
insegurança.
Importa ainda estratégias mais
proactivas e eficientes de minimizar, a exclusão, o abandono e insucesso
educativos, a guetização e "quase total" desocupação de, em Portugal,
centenas de milhares de elementos da geração "nem, nem" nem estuda,
nem trabalha. Para esta gente, o futuro passa por onde, por quem e porquê?
Finalmente, a importância de uma
precoce e permanente atenção às pessoas, ao seu bem-estar, tentando detectar,
tanto quanto possível, sinais que indiciem o risco de enveredar por um caminho
que se percebe como começa, mas nunca se sabe como acaba.
Nos Estados Unidos, na Noruega,
na França, na Alemanha, no Brasil... ou em Portugal.
PS - Quando comecei a alinhavar estas notas tomei conhecimento da tragédia na Nova Zelândia. Parece associada a outra face deste mal-estar, a intolerância, o ódio, a violência desregulada.
Vão negros os tempos.
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