Um destes dias, a professora Isabel que trabalha
na escola onde está o Professor Velho, aquele que já não dá aulas, está a
biblioteca e fala com os livros, convidou-o para ir à sala dela falar com os
miúdos de como era a escola noutros tempos. O Professor Velho adora contar
histórias, acha mesmo que é umas das vantagens de ficar velho, ter histórias
para contar e passou a manhã com os miúdos, mesmo ao intervalo andava por lá no
meio dos jogos e brincadeiras. Nessa tarde pediu à professora Isabel que
passasse pela biblioteca para conversarem sobre a visita.
Olá Velho, então gostaste da
minha turma?
Foi bonito, como sabes gosto de
contar histórias e eles, ainda bem para mim, parecem gostar de ouvir histórias
e participar nas conversas.
Pois é, gostam mesmo de falar e
ainda estão a aprender a não falar todos aos mesmo. Às vezes não é fácil.
Com o tempo e com persistência
eles aprendem, são inteligentes e percebem que é melhor assim. Já reparaste
naquela menina com o cabelo e os olhos pretos, pequenina, que se chama, creio,
Joana?
Já Velho estava para um dia
destes te falar dela. Está sempre calada, desvia o olhar quando chego ao pé
dela, está quase sempre só. Porque perguntas?
Também me pareceu, como referes,
que a Joana é uma menina que parece triste. Desde que cheguei à sala que o
olhar dela me chamava. Procurei estar atento e durante o intervalo tentei
aproximar-me e conversar.
Não parece fácil, ela foge um
bocadinho.
Não fugiu, conversámos sobre uma
história que eu tinha contado mas fiquei preocupado. A Joana tem uma sombra?
Uma sombra?
Sim Isabel, uma sombra, uma
sombra grande no olhar. Não consegui perceber o que é, mas ela carrega uma
sombra grande que a assusta, que a faz ficar com medo. Quando a gente espreita
nos olhos dos miúdos consegue, às vezes, ver as sombras da vida deles. Temos
que descobrir qual a sombra do olhar da Joana, para a ajudar a perder o medo.
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