No I está um trabalho tão oportuno quanto inquietante sobre o que de há algum tempo designo por "alçapões" da net. No Youtube conteúdos destinados a crianças são interrompidos com
vídeos sobre como realizar automutilação ou como conteúdos como comummente
usados pelas crianças, “Porquinha Pepa” por exemplo, aparecem “martelados”, por
assim dizer, de forma a expor violência ou conteúdos de natureza sexual.
Em 2017 escrevi para a Visão um
texto sobre esta questão justamente porque observando uma criança a usar um
Ipad buscando no Youtube um conteúdo de que gosta muito, personagens e cenários
do universo dos Lego Duplo, me dei conta de que o que estava a ser visto eram cenas
de violência, assaltos, tiros, que não são habituais neste conteúdo.
Com inquietação e curiosidade a
pesquisa levou-me ao encontro de mais filmes desta natureza e que estão ao
alcance de um dedo de qualquer idade, a busca do YouTube disponibiliza-os sem
grande exigência, basta começar a ver “Lego” e vão aparecendo visíveis na barra
direita do ecrã devido ao algoritmo de pesquisa como, aliás, é explicado no
trabalho de agora no I.
Naquela altura soube que com
outros conteúdos destinados a crianças tal situação também acontecia, Ruca, a
Pocoyo e a Peppa Pigs que agora também aparece referenciada.
Desde essa altura tenho abordado
regularmente esta questão com pais e educadores e apesar de alguns, muito
poucos, se terem apercebido disto, a maioria não tinha dado conta.
Sabemos que a presença das
tecnologias de informação e de utilização lúdica no nosso quotidiano é cada vez
mais pesada e cada vez mais as sentimos como imprescindíveis.
Em muitas famílias as crianças
desde muito cedo as crianças têm acesso a este tipo de equipamentos e conteúdos
e são reconhecidos os riscos que a sua sobre utilização implica como as peças
sublinham.
Apesar de termos contextos
familiares em que estes dispositivos são utilizados como serviço de
“babysitting”, ou seja, as crianças estão “entretidas” com um qualquer ecrã
durante demasiado tempo para “descanso” da família, a experiência mostra-me que
muitos pais se preocupam com os comportamentos e atitudes que devem adoptar.
Os estilos de vida e as
particularidades de cada situação não permitem elaborar “receitas” com as quais
em matéria de educação escolar ou familiar não simpatizo muito. No entanto,
creio que poderemos considerar alguns pontos que nos podem ajudar nesta matéria
entendidos como orientações.
Não me parece boa ideia
“diabolizar” as novas tecnologias, fazem parte do nosso quotidiano e são
excelentes ferramentas de acesso a conhecimento e a entretenimento, quer em
contexto familiar, quer em contexto escolar. Aliás, já nem me parece que
justifiquem o "novas". Assim sendo, afastá-las das crianças e jovens
não parece o mais ajustado.
Nesta perspectiva, exceptuando
crianças muito pequenas e por razões óbvias, a proibição não parece uma boa
abordagem. A definição de regras, tempo, atenção aos conteúdos e circunstâncias
de utilização e supervisão relativamente aos conteúdos será uma atitude bem
mais ajustada. Não é, evidentemente, uma tarefa fácil mas parece-me
imprescindível que sejamos firmes e consistentes nesse sentido, os riscos são
elevados e o bem-estar presente e futuro das crianças merece e justifica o
esforço.
Conversar com outros pais,
educadores/professores ou técnicos sobre estas questões parece também uma boa
iniciativa. Verificamos que não somos os únicos a lidar com dificuldades ou
inquietações o que pode minimizar alguma insegurança ou receio e podemos
partilhar informações e formas de actuar que podem ser úteis apesar das
diferenças de cada situação.
Finalmente, creio que a
interacção com as crianças na utilização destes materiais é também uma boa
opção. Com as mais pequenas porque possibilita ajuda e orientação no uso e com
as mais velhas a interacção funciona como forma de supervisão e alerta para “os
alçapões” da “net”.
Esta interacção com as crianças é
também importante como forma de promover a sua auto-regulação e autonomia nas
viagens virtuais. Estão informadas dos riscos, estão informadas sobre a
adequação de conteúdos e quando os filtros dos próprios programas não funcionam
as crianças decidirão sobre o que acedem ou não acedem, sobretudo quando estão
sós. E como como sabemos, muitas crianças estão sós, mesmo quanto têm adultos
por perto.
Sei que não é fácil este caminho
mas creio que é importante o esforço de o percorrer.
Boas viagens pela “net” … para
pais e filhos.
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