segunda-feira, 4 de março de 2019

OS "ALÇAPÕES" DA NET. DE NOVO


No I está um trabalho tão oportuno quanto inquietante sobre o que de há algum tempo designo por "alçapões" da net. No Youtube conteúdos destinados a crianças são interrompidos com vídeos sobre como realizar automutilação ou como conteúdos como comummente usados pelas crianças, “Porquinha Pepa” por exemplo, aparecem “martelados”, por assim dizer, de forma a expor violência ou conteúdos de natureza sexual.
Em 2017 escrevi para a Visão um texto sobre esta questão justamente porque observando uma criança a usar um Ipad buscando no Youtube um conteúdo de que gosta muito, personagens e cenários do universo dos Lego Duplo, me dei conta de que o que estava a ser visto eram cenas de violência, assaltos, tiros, que não são habituais neste conteúdo.
Com inquietação e curiosidade a pesquisa levou-me ao encontro de mais filmes desta natureza e que estão ao alcance de um dedo de qualquer idade, a busca do YouTube disponibiliza-os sem grande exigência, basta começar a ver “Lego” e vão aparecendo visíveis na barra direita do ecrã devido ao algoritmo de pesquisa como, aliás, é explicado no trabalho de agora no I.
Naquela altura soube que com outros conteúdos destinados a crianças tal situação também acontecia, Ruca, a Pocoyo e a Peppa Pigs que agora também aparece referenciada.
Desde essa altura tenho abordado regularmente esta questão com pais e educadores e apesar de alguns, muito poucos, se terem apercebido disto, a maioria não tinha dado conta.
Sabemos que a presença das tecnologias de informação e de utilização lúdica no nosso quotidiano é cada vez mais pesada e cada vez mais as sentimos como imprescindíveis.
Em muitas famílias as crianças desde muito cedo as crianças têm acesso a este tipo de equipamentos e conteúdos e são reconhecidos os riscos que a sua sobre utilização implica como as peças sublinham.
Apesar de termos contextos familiares em que estes dispositivos são utilizados como serviço de “babysitting”, ou seja, as crianças estão “entretidas” com um qualquer ecrã durante demasiado tempo para “descanso” da família, a experiência mostra-me que muitos pais se preocupam com os comportamentos e atitudes que devem adoptar.
Os estilos de vida e as particularidades de cada situação não permitem elaborar “receitas” com as quais em matéria de educação escolar ou familiar não simpatizo muito. No entanto, creio que poderemos considerar alguns pontos que nos podem ajudar nesta matéria entendidos como orientações.
Não me parece boa ideia “diabolizar” as novas tecnologias, fazem parte do nosso quotidiano e são excelentes ferramentas de acesso a conhecimento e a entretenimento, quer em contexto familiar, quer em contexto escolar. Aliás, já nem me parece que justifiquem o "novas". Assim sendo, afastá-las das crianças e jovens não parece o mais ajustado.
Nesta perspectiva, exceptuando crianças muito pequenas e por razões óbvias, a proibição não parece uma boa abordagem. A definição de regras, tempo, atenção aos conteúdos e circunstâncias de utilização e supervisão relativamente aos conteúdos será uma atitude bem mais ajustada. Não é, evidentemente, uma tarefa fácil mas parece-me imprescindível que sejamos firmes e consistentes nesse sentido, os riscos são elevados e o bem-estar presente e futuro das crianças merece e justifica o esforço.
Conversar com outros pais, educadores/professores ou técnicos sobre estas questões parece também uma boa iniciativa. Verificamos que não somos os únicos a lidar com dificuldades ou inquietações o que pode minimizar alguma insegurança ou receio e podemos partilhar informações e formas de actuar que podem ser úteis apesar das diferenças de cada situação.
Finalmente, creio que a interacção com as crianças na utilização destes materiais é também uma boa opção. Com as mais pequenas porque possibilita ajuda e orientação no uso e com as mais velhas a interacção funciona como forma de supervisão e alerta para “os alçapões” da “net”.
Esta interacção com as crianças é também importante como forma de promover a sua auto-regulação e autonomia nas viagens virtuais. Estão informadas dos riscos, estão informadas sobre a adequação de conteúdos e quando os filtros dos próprios programas não funcionam as crianças decidirão sobre o que acedem ou não acedem, sobretudo quando estão sós. E como como sabemos, muitas crianças estão sós, mesmo quanto têm adultos por perto.
Sei que não é fácil este caminho mas creio que é importante o esforço de o percorrer.
Boas viagens pela “net” … para pais e filhos.

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